domingo, 30 de novembro de 2014

MARATONA OLÍMPICA

MARATONA OLÍMPICA
            Brasil se prepara para sediar mais uma edição dos Jogos Olímpicos, no Rio. O evento é oportunidade de confraternização entre os povos, através do esporte. Os primeiros Jogos da Era Moderna surgiram em 1896, em Atenas, capital da Grécia. Por isso essas competições possuem uma áurea mística, que relembra e homenageia o panteão dos deuses gregos e suas lendas.
            Uma delas homenageia um desses personagens mitológicos. Diz a lenda (ou história) que os gregos se envolveram numa sangrenta batalha contra os persas, na planície de Marathonas, 490 anos antes de Cristo. Em menor número que seus adversários e temerosos pelo fracasso na batalha, os soldados atenienses deixaram uma ordem às suas mulheres: se fossem derrotados e não retornassem em 24 horas, suas mulheres deveriam matar seus filhos e se suicidar. Surpreendentemente, venceram. A batalha foi além do tempo esperado. Então o general Milcíades ordenou ao soldado Filípedes que corresse até Atenas e comunicasse a vitória a seus familiares. O mensageiro saiu em disparada, para vencer os 42 quilômetros a tempo de evitar uma tragédia maior, o suicídio coletivo. Sua corrida foi tão estafante que, ao chegar, pode apenas dizer: “Vencemos”. E caiu morto! Nascia assim a prova da maratona.
            O episódio acima não deixa de ser uma referência concreta para a luta diária que travamos pela sobrevivência. Só às portas da morte poderemos dizer: “Vencemos”. Mas há um quesito trágico, porém essencial na compreensão dos esforços coletivos: o sacrifício de um é a salvação dos demais. A maratona da vida exige essa purificação pessoal: dor e sacrifício, suor e lágrimas. Qual povo, qual fé, qual bandeira ou ideal não possui seus heróis? Sem eles suas conquistas de nada valeriam, sua fé não teria a consistência do testemunho, suas bandeiras tremulariam ao acaso do tempo fugaz, seus ideais seriam sufragados à menor das ameaças...
            Não é diferente da fé cristã: o sacrifício de um é a salvação dos demais! Afinal, como compreender a morte de Cristo... A via que nos foi dada percorrer não se mede em quilômetros vencidos, mas a vencer. Nosso cronometro zera a cada 24 horas, a cada dia que catalogamos em nossas vidas, para recomeçar sempre, enrijecidos pelas lições, conquistas e vitórias do dia anterior. Curiosamente, o maior facínora dos tempos modernos, Hitler, cunhou um dia um excelente conselho para seus soldados. Dizia ele: “Se nossa vontade for tão forte que nenhuma privação e sofrimento possam subjugá-la, então nossa vontade e nosso poder irão prevalecer”. Verdade nua e crua, desde que o objetivo se eleve a um plano maior que nossas toscas aspirações de poder e glória. Um plano de salvação, por exemplo. Mas Salvação com “s” maiúsculo. Hitler, sabemos, foi derrotado. Churchill, seu oponente, questionava seus soldados: “Vocês perguntam, qual o nosso objetivo? Posso responder em uma palavra: A vitória, a vitória a qualquer preço, pois sem vitória não há sobrevivência”. Não alcançou a vitória que imaginava sem perder muitos dos seus. Sabemos como acabou essa obsessão mundana, cujo pano de fundo era apenas a manutenção do poder, uma vitória terrena.
            Nossa vitória vai além. “Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11,25).  Esse é o grande trunfo da fé cristã, pois, como afirmou Paulo aos Romanos: “Nenhum de nós vive para si e ninguém morre para si” (14,7). A luta cristã evoca uma esperança maior, uma vitória jamais imaginada ou sequer desejada pelos deuses dos panteões de nossas pequenas ambições terrenas. “Ora, a aspiração da carne é a morte, enquanto a aspiração do espírito é a vida e a paz. Porque o desejo da carne é hostil a Deus...” (Rom 8, 6). Então Jesus nos acena com uma palavra de ânimo e carinho: “Coragem, eu venci o mundo!”

WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

Nenhum comentário: