A REVOLUÇÃO DA FÉ
Estamos
atravessando uma verdadeira revolução religiosa no mundo. Queiramos ou não, o
conceito de fé não mais é o mesmo depois do afloramento do radicalismo, seja
ele muçulmano, cristão, budista ou judaico. Mesmo o radicalismo dos que se
dizem ateus é hoje uma corrente com vastas e sérias influências a fomentar
muitas das ações de violência que estamos assistindo. O pensamento humano
perdeu o rumo da razão. A fé de muitos titubeia em meio ao caos de uma
humanidade sedenta de Deus, mas insegura diante dos caminhos que possam levá-la
ao seu encontro. Matar, executar, praticar o terrorismo, desestabilizar nações,
semear discórdias entre raças e povos, não é, com certeza, o caminho de Deus.
Antes
é bom lembrar o sentido etimológico da religião (do verbo latino religare:
reatar, construir pontes, unir céus e terra, Deus e os homens) para nos
apercebermos o quão distante esta função está da realidade que cerca a prática
e distancia a prédica. Todas as grandes religiões têm seu código de conduta,
suas escrituras e mandamentos. Todas buscam (ou pelo menos deveriam buscar) a
confraternização humana diante de seu Criador. Agir diferentemente dos
ensinamentos que apregoam é, no mínimo, alimentar as desavenças com maiores
mentiras e dissimulações próprias das ações demoníacas, nunca divinas. Aqui
nasce o fanático. Também o terrorista. Cegos em suas razões, nunca enxergarão
as razões do outro. O que deveria ser ponto de convergência na espiritualidade
humana, torna-se estopim de divergências. E o temor a Deus se torna um temor
aos semelhantes.
Fico
a imaginar as consequências dessa cegueira religiosa. Não estamos livres dela,
ao contrário, seja qual nossa fé, ela só será verdadeira quando respeitar a fé
alheia. Como cristão, reconheço essa falha também entre nós. O respeito humano
(vergonha de se dizer seguidor de Cristo) é o maior empecilho a impedir maiores
adesões à pureza da fé que professamos. Queremos impor nossa fé apregoando suas
belezas e nossas verdades; e nos esquecemos que à frente dela está a beleza e a
verdade de Deus, que usa de todos os meios para se manifestar entre nós. Essa
verdade não nos pertence, mas é prerrogativa do Criador de tudo, de todos. “Não
é o vigor do cavalo que lhe agrada, nem ele se compraz nos jarretes do
corredor. Agradam ao Senhor somente os que o temem, e confiam em sua
misericórdia” (Sl 146, 10-11). Não é a beleza da nossa fé que nos garante a
vitória, mas antes o respeito Àquele que a despertou em nós, com a certeza de
seu Amor e sua benevolência para com todos que o temem.
Jesus
foi sucinto nessa questão. “Não tenhais medo daqueles que matam o corpo e
depois disto nada mais podem fazer. Mostrar-vos-ei a quem deveis temer: temei
Aquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno; sim, eu vo-lo
digo, temei a este”. (Lc 12, 4-5) Não há como construir caminho diferente. Ou
nos perfilamos no objetivo da caminhar para Deus respeitando a lei estabelecida
– que em qualquer religião tem por princípio o amor aos semelhantes e o temor a
Deus – ou mergulhamos de corpo e alma na Geena do caos e da perdição de todos. “Eis
o momento para apelar para a paciência dos santos, dos fiéis aos mandamentos de
Deus e à fé em Jesus”. (Ap 14, 12). Eis o momento para demonstrar nossa fé...
Toda
revolução é purificadora. Toda provação resulta em alívio e esperança renovada.
A transformação que se processa na espiritualidade humana tem como meta uma fé
única, preciosa e mais consistente, para que o mundo possa enfim entender o que
Deus quer de nós. Os que perseverarem verão esse momento de glória. “Como o Pai
me ama, assim também eu vos amo. Perseverai no meu amor”, exortava Jesus, ao
mesmo tempo em que revelava sua missão. “Disse-vos estas coisas para que a
minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa” (Lc 15, 9 e 11).
Esse dia ainda virá...
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br