PERIFERIAS EXISTENCIAIS
Da
periferia do mundo surgiu o papa Francisco. Um latino-americano marcado pelas
carências e cercado pelas injustiças que proliferam no submundo dos pobres, não
poderia ser diferente do que aí está: compreensivo, sorriso fácil, olhar
misericordioso, porém contundente em suas posições e objetivo em suas
palavras. Dele o mundo precisa; para ele
se voltam as esperanças do sonhado mundo novo. A ele se somam os jovens
cansados e decepcionados com as vãs filosofias e falsas promessas que o
consumismo e materialismo em excesso não lhes proporcionaram. O mundo
redescobre um líder, que lhes aponta algo novo: as periferias existenciais.
De
que nos fala Francisco? Uma nova perspectiva de missão está nascendo na Igreja.
Não há pobres só da matéria ou só do intelecto. A pior das pobrezas é a da
alma. Na periferia da vida, o pobre de espírito padece tanto ou quanto aquele
que sofre privações básicas. Triste é o ser humano sem a riqueza de Deus, sem
uma experiência pessoal concreta, real, profunda, com Aquele que o criou e lhe
destinou todas as riquezas do mundo, todas as alegrias e o próprio sentido da
vida. Essa é a missão da Igreja – que não prioriza ou exclui este ou aquele –
mas que visa única e exclusivamente colocar o indivíduo na presença misericordiosa
de Deus, sem olhar sua condição humana, seu status social, sua influência ou mesmo
sua insignificância aos olhos da sociedade. Todos nós temos uma missão nesta
vida.
Escreveu
em sua encíclica “Lúmen Fidei”: “Aquele que crê jamais está sozinho, porque a
fé é um bem comum que ajuda a edificar as nossas sociedades, dando-lhes
esperança. Porque a fé é como um pulo no vazio, que impede a liberdade do
homem. É importante ter confiança, com humildade e coragem, no amor
misericordioso de Deus, que endireita as sinuosidades de nossa história”. Em
outras palavras, lembrando aquela preciosa fábula do homem que caia em um
abismo, mas ficou pendurado num galho. “Você acredita em mim”- perguntou-lhe
Deus. “Então solte o galho”.
É
dessa fé que o papa nos fala. Fé que exigirá confiança, sintonia, oração se de
fato quisermos levar a bom termo nossa missão no mundo. Mais uma vez Francisco
nos fala, em recente homilia (7.7.2013): “Sejam sempre homens e mulheres de
oração! Sem o relacionamento constante com Deus, a missão se torna um ofício. O
risco do ativismo, de confiar demasiado nas estruturas, está sempre à
espreita”... Quem assim já não agiu, ou melhor, deixou de agir porque não
encontrou suporte financeiro, não sentiu apoio do grupo, do movimento, da própria
Igreja, não viu respaldo lógico em sua ação missionária? Faltou-lhes oração.
Então
vem a grande revelação dessa nova teologia missionária. “Quanto mais a missão
os chamar para ir para as periferias existenciais, tudo mais o seu coração se
manterá unido ao Cristo, cheio de misericórdia e de amor. Aqui reside o segredo
da fecundidade de um discípulo do Senhor” (papa Fco. 7.7). Eis a chave da ação missionária que o mundo
de hoje necessita! Eis o segredo que o papa nos revela nessa visita abençoada à
Terra da Santa Cruz, aureolada por milhões de jovens cansados das ilusões e
feridos pela pobreza existencial que espezinha suas vidas. A Igreja faz coro a
essas vozes. O papa se une a eles, numa jornada mundial, a nos dizer de uma
nova opção preferencial. Não só jovens, não só pobres, não só excluídos, mas
todos os marginalizados das “periferias existenciais”, são hoje objetos do
carinho e acolhimento cristão. Porque o mundo já não mais agüenta tanta miséria
moral, espiritual, intelectual, humana, existencial... Vive-se o conforto de
belas mansões, com o conteúdo das piores favelas... Os jovens da JMJ estão nos
dizendo: Viva a vida! Mas seguindo antes os passos daquele que se diz caminho,
verdade...
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário