A NOSSA HERANÇA
Desse
mundo levaremos duas recordações: os problemas que ocasionarmos e as soluções
que encontrarmos. Nessa balança, que sejam abundantes as soluções.
É
curioso descobrir que muitos são os problemas em aberto na estrada que
trilhamos. Ou você já resolveu todos os seus? Desconheço uma alma viva, uma
única sequer, que não se defronte cotidianamente com eles. Nada mais fazemos em
vida do que equacionarmos os desafios que esta nos apresenta. Estarei errado?
Então me aponte alguém sem problemas, conflitos pessoais, existenciais ou mesmo
de ordem espiritual. Nem mesmo os santos estão isentos deles. Todos nos
defrontamos com nossos problemas, uma herança existencial.
É
o custo da própria sobrevivência. Que sentido teria a vida se não lutássemos por
ela, se nada fizéssemos para merecê-la? Travamos essa guerra desde nossa
origem, desde quando ainda estávamos no ventre materno. Uma curiosa passagem
bíblica nos fala da luta de dois gêmeos, Esaú e Jacó, que brigaram ainda no
ventre de sua mãe Rebeca. Em vida continuaram suas pelejas. Ficou famosa a
disputa que travaram pelos direitos da herança paterna. Senão, vejamos...
Durante
vinte anos, Isaac e Rebeca não tiveram filhos. Deus ouviu suas preces e premiou
o casal em dose dupla. O primogênito teria o direito da herança.
Convencionou-se que Esaú, mais forte, pele cabeluda, o agricultor e ágil
caçador era o mais velho, ficando o mais fraco, Jacó, responsável apenas pelo
pastoreio do rebanho da família. Um dia, voltando do trabalho faminto e
cansado, Esaú trocou seus direitos de primogenitura por um simples e suculento
prato de lentilhas. Jacó dele exigiu um juramento apenas. Depois de saciar sua
fome e sede, Esaú voltou para a luta pela sobrevivência, pouco se importando
com seu direito hereditário. Afinal, antes o estômago cheio e a bolsa vazia do
que o contrário...
Faltava a bênção paterna para legitimar aquele
direito. Já velho e cego, o pai Isaac pediu a Esaú que lhe preparasse um prato
com sua caça e então seria abençoado, oficializando-se sua herança. Mas Rebeca,
cuja predileção era pelo filho Jacó, apressou-se em disfarçar o filho mais novo
com peles e apresentá-lo ao pai como se fosse o outro. Assim, com astúcia, Jacó
obteve os direitos e a bênção necessária para oficializar a cobiçada herança.
“Serás o senhor de teus irmãos e as nações ser-te-ão submissas”, disse-lhe o
pai já no fim de sua vida. Jacó tornou-se Israel e deu origem aos israelitas, o
povo de Deus. Isso depois de muitos conflitos e fugas para escapar da ira de
seu irmão. Um dia, porém, ambos se reconciliaram.
Essa
é a história da nossa origem, como povo eleito de Deus. A história do Filho
Pródigo, do “filho mais velho e do filho mais novo”, o antigo e o novo povo de
Deus, a antiga e a nova aliança, que nos proporcionou o direito da herança
universal do Filho de Deus. Isso mesmo! De certa forma “usurpamos” as bênçãos
paternas, pois que não merecíamos tão grande privilégio. Nosso maior problema,
agora, é fazer por merecer os dons da vida plena que recebemos de Jesus; é
legitimar essa herança buscando antes a reconciliação entre nós, ou seja, o
reencontro fraterno entre todos os povos, com os quais temos a missão de
partilhar as alegrias de nossa herança de fé. Quando isso se der, nossos
maiores problemas estarão resolvidos e a vida terá um sentido novo. Só assim
poderemos usufruir das alegrias de uma herança abençoada, as riquezas que
provêem das mãos generosas do Pai Criador.
Nesse
mundo é possível encontrar não só problemas, mas soluções que reforçam o
sentido da vida, ou seja, todo problema tem solução. Aos olhos da fé qualquer
problema deixa de existir. Lembre-se: nossa maior herança é a fé. Um dia
reconciliar-nos-emos, se soubermos partilhar essa riqueza que herdamos dos
nossos antepassados.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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