A ALEGRIA DA MISSÃO
Jesus reuniu
setenta e dois discípulos e os enviou em missão, “como cordeiros entre lobos”. Dava-lhes
toda garantia de sucesso e os encorajava com uma promessa: “Quem vos ouve, a
mim ouve”. Foi o início da ação missionária cristã, donde exala a euforia
desses privilegiados: “Voltaram alegres os setenta e dois”, surpresos até pela
submissão de muitos demônios, que não ousaram questionar suas pregações. E
Jesus os felicitou com um alerta: “Não vos alegreis porque os espíritos vos
estão sujeitos, mas alegrai-vos de que os vossos nomes estejam escritos nos
céus” (Lc10, 1-20).
Essa
mesma alegria se desprende em todo conteúdo da exortação Evangelli Gaudium, que
o papa Francisco nos apresenta como primeiro grande desafio que seu pontificado
faz ao povo de Deus. A linha missionária é a essência de sua mensagem.
“Recuperemos e aumentemos o fervor do espírito, a suave e reconfortante alegria
de evangelizar, mesmo quando for preciso semear com lágrimas” (10). Porque
sabemos de antemão o quanto soa estranha uma mensagem de paz e fraternidade num
mundo conturbado, conflitante e insensível aos apelos de Deus, aos desafios de
uma doutrina aparentemente utópica. O papa conhece bem esses desafios. Por
isso, insiste: “Todos têm o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o
dever de o anunciar, sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma nova
obrigação, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo,
oferece um banquete apetecível” (14).
São
muitas as limitações. Mas a vida missionária é expressão de fé, portanto
compete a todo e qualquer batizado. “Um coração missionário está consciente
destas limitações, fazendo se ‘fraco com os fracos (...) e tudo para todos’ (1
Cor 9,22). Nunca se fecha, nunca se refugia nas próprias seguranças, nunca opta
pela rigidez auto-defensiva... ainda que corra o risco de sujar-se com a lama
da estrada” (45). Os anjos de Deus vão à
frente do missionário, endireitam suas veredas. “É o olhar do discípulo
missionário que se nutre da luz e da força do Espírito Santo” (50), tornando-o
destemido e ardoroso anunciador duma verdade que impulsiona sua própria vida.
“Uma das tentações mais sérias que sufoca o fervor e a ousadia é a sensação de
derrota que nos transforma em pessimistas lamurientos e desencantados com cara
de vinagre” (85). O pessimismo não cabe na ação missionária.
“A
nossa imperfeição não deve ser desculpa; pelo contrário, a missão é um estímulo
constante para não nos acomodarmos na mediocridade, mas continuarmos a crescer”
(121). Às vezes, uma inesperada conversa informal ou ocasional torna-se
excelente oportunidade de evangelização. O papa nos desafia a usar desses
momentos, pois “ser discípulo significa ter a disposição permanente de levar
aos outros o amor de Jesus; e isto sucede espontaneamente em qualquer lugar: na
rua, na praça, no trabalho, num caminho” (127). Mas alerta: “Quem quiser
pregar, deve primeiro estar disposto a deixar-se tocar pela Palavra e fazê-la
carne na sua vida concreta” (150). “O Espírito
Santo, que inspirou a Palavra, é quem hoje ainda, como nos inícios da Igreja,
age em cada um dos evangelizadores que se deixa possuir e conduzir por Ele, e
põe na sua boca as palavras que ele sozinho não poderia encontrar” (151).
A
fé cristã contagia. “A vocação e a missão próprias dos fiéis leigos é a
transformação das diversas realidades terrenas para que toda atividade humana
seja transformada pelo Evangelho” (201). “Só pode ser missionário quem se sente
bem procurando o bem do próximo, desejando a felicidade do outro... estar com
os outros e ser para os outros” (272/3). Como Maria, rainha missionária da
Igreja, que, para não acabar a alegria entre os convidados de um casamento,
pediu a seu Filho a gentileza dum primeiro milagre, o vinho novo que os servos
da casa imaginavam água. O vinho de Jesus faz a alegria da vida missionária dos
seus servos, nosso pacto de amor com Ele.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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