UM DEUS APAIXONADO
O
verdadeiro amor está sempre próximo da dor. Quem já amou verdadeiramente sabe
disso. Não há amor sem sofrimento. Não há paixão sem dor. Por isso dizemos que a
morte de Cristo foi sua paixão, sua prova de amor incondicional. Só o calvário
de Cristo, palco de sua grande paixão, foi capaz de definir, em plenitude, a
dimensão do amor de Deus por sua criatura maior, o ser humano.
Falta-nos
a compreensão desse amor. Paixão que se sacrifica, que dá a vida, que chega aos
extremos da dor e do abandono, da repulsa e da incompreensão, mas mesmo assim
persiste, nunca será um sentimento mesquinho, meramente humano ou ocasional. Às
vezes dizemos enlouquecer de amor por alguém; às vezes pensamos sucumbir pela
não correspondência ou desejamos morrer a um simples sinal de indiferença da
pessoa que elegemos como merecedora de todos os nossos sentimentos ou, por
vezes, nos desiludimos para sempre por termos feito da pessoa amada a razão de
ser de nossa existência. E, quase sempre, descobrimos não ser bem assim. Então
nos vem a pergunta fatal: o verdadeiro amor, existe?
Ora,
a resposta parece simples quando se está apaixonado. Mais ainda quando a descoberta desse amor é impulsionada
pelos hormônios e neurônios da adolescência, do primeiro amor, aliada à atração
física, à descoberta do outro como complemento, extensão da própria vida... Ah,
paixão! Façamos, então, essa pergunta a um casal de dez anos de vida a dois. A
outro de vinte, de quarenta, sessenta... Vovô, vovó: o verdadeiro amor; existe? Teríamos respostas ambíguas, incoerentes,
contraditórias com muitos históricos de vida a dois que bem conhecemos, mas no
fundo, no fundo, só o fato da resposta nos ser dada por duas pessoas, já é uma
grande prova de sua existência. Se o amor que compreendemos não fosse sombra de
algo mais, então nada significaria ao mundo o amor de Deus.
Eis
a questão que nos motiva: paixão e morte ou paixão e vida? Dizem – e com razão
– que a maioria dos cristãos dá grande importância à Sexta-feira da Paixão
(suas igrejas superlotam) e quase nenhuma ao Domingo da Ressurreição;
celebramos a morte e nos esquecemos da vida que brota dos nossos túmulos
vazios. Nossa esperança se esquece do terceiro dia. Nossa paixão (amor verdadeiro) dificilmente
vencerá a morte de nossos dilemas. Se eliminarmos a possibilidade da vitória
cristã sobre a morte, estamos destruindo toda e qualquer razão para nossas
crenças, nossa esperança ou mesmo nossa vida sentimental, os amores que
pensamos possuir. Num mundo sem Deus, sem fé e esperança, paixão e morte farão
parte de nossa existência dia e noite. Mas onde ainda lampeja a fé, a crença no
verdadeiro Amor, Paixão será a lembrança primeira dum Deus apaixonado, capaz de
descer até nós e nos oferecer sua maior riqueza, a fragilidade humana dum
Cristo, caminho, verdade e vida. Vida em plenitude! Sua paixão foi essa: dar a
vida. Em meio a toda sua dor ainda soube consolar e alertar: “Não choreis por
mim, mas por vossos filhos”.
Isso
é que é paixão! Não as nossas declarações patéticas de amor eterno, que se apagam
ao primeiro sopro das adversidades. Não o sangue agitado nas veias do poeta,
que o animam a declamar juras eternas, “enquanto dure” a fragilidade de um amor
terreno. Esse amor nunca será paixão. Pelo menos como tentamos entender ou
definir a paixão de Deus por cada um de nós, células fugazes de um corpo
divino, um universo sem fim, repleto de vida e plenitude, de amor e paz. Não
choremos pelo Cristo morto! Choremos, sim, pelos filhos da indiferença, do
desleixo, da superficialidade, do hedonismo, da insensibilidade, do comodismo, da
vida sem outros prazeres do que sexo e drogas, morfina e adrenalina, nascer e
morrer.... Os filhos de nossas paixões sem amor! E nada mais!
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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