É, QUIÇÁ A VITÓRIA
Um
país que se dá ao luxo de humilhar e expor ao ridículo sua autoridade máxima,
ao mesmo tempo em que ocupa avenidas e abarrota estádios novinhos em folha,
construídos ou reformados pela administração em xeque, é, deveras, uma situação
inusitada, incompreensível e inexplicável para o resto do mundo. Até para nós
mesmos. Aplaudimos e condenamos, sopramos e abafamos, damos nosso voto, apesar
dos pesares, da dúvida, das suspeitas, da reprovação popular. Que país é esse?
Se
a aspiração maior visa a ilusão de um sonho futebolístico, há que se considerar
ser mais premente a luta diária do trabalhador que sonha com um futuro melhor.
O futebol, apesar de envolvente, nunca deixará de ser um hiato de vibração
momentânea, uma injeção de adrenalina, porém sem garantias de sobrevivência. Já
a vitória preconizada desde o berço é aquela do conforto mínimo, capaz também
de possibilitar pequenos privilégios, como torcer pelo time do coração. Aqui
ainda cabe um viva à seleção da Pátria, sem necessariamente, as vaias a seus
governantes. Mas quando um mesmo público se divide entre vaias e aplausos,
definitivamente, algo de muito sério corrói seus ideais.
O ideal maior
de uma nação é sair-se vitoriosa em suas aspirações, sejam estas no plano
coletivo ou nas aspirações mais recônditas do indivíduo, do cidadão. Vencer é a
condição primeira da vida. Só o fato de aqui estarmos já preconiza uma vitória.
Somos sobreviventes de uma luta, uma competição constante, que se mede dia a
dia, mês a mês, ano a ano. A cada passo, a cada pulso; a cada etapa da história
pessoal, comunitária, do grupo, da família, do clube, da nação, os louros das
vitórias cotidianas engrandecem e alimentam as motivações do viver humano. A
vida é competição, desde o berço. Quiçá também no berço esplendido de um povo
que não foge à luta?
Organizar uma
competição ao custo da espoliação pública não pode nunca ser considerada
prioridade. Os números são aterradores. Há quem diga que gastamos três, quatro
vezes mais que a média das cinco últimas competições mundiais. Hexa-campeões de
fato! Sem comentar – e já comentando – o boato (tomara!) de que a Fifa sairá
daqui isenta de pagamento de qualquer tributo. Estamos nos dando ao luxo de
comprar um título? Mas qual deles: campeões no drible, no gingado, no trejeito,
na malandragem, no jeitinho, na dança, no milagre de fazer misérias com a bola,
o pandeiro ou a vida? Ou simples derrotados no que temos - ou deveríamos ter -
de mais precioso: a auto crítica?
Reclamar,
nesta altura do campeonato, de nada vale. Podemos, no entanto, reverter. Quando
um caminho outrora glorioso e aureolado por muitas pompas é interrompido pela
crueza de uma realidade antagônica, o bom guerreiro não depõe suas armas, mas
se torna intrépido, destemido. Busca na força interior os valores outrora
armazenados, tais quais aqueles herdados da tradição e da fé de seus pais.
“Interroga as gerações passadas, e examina com cuidado a experiência dos
antepassados... Eles podem instruir-te, falar-te e de seu coração tirar esse
discurso” (Jó 8,8 e 10). É verdade, um discurso derrotista nada constrói, não
conduz à vitória, nunca!
Porque de
derrotados e derrotistas nossas ruas estão cheias. O momento agora é de
reavaliação e reposição das armas. Não aquelas do estampido contra o
semelhante, das lágrimas forçadas em praças públicas, da borracha e do
cassetete, do cão adestrado, porém mal conduzido, mas repor as armas de “um povo
varonil” e seu “impávido colosso”. Um povo que não se ufana por pouco, mas se
orgulha do muito conquistado até agora; e do muito que ainda tem por
conquistar! Então mereceremos esse hexa...
É
verdade, o Brasil já perdeu, e muito, com essa Copa. Quiçá sejamos vencedores
ao menos da sua final – tenha esta o resultado que tiver!
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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