RADICALISMO NÃO É FÉ
O
mundo assiste de braços cruzados e olhar atônito o crescimento do
fundamentalismo religioso. Não só em países de profissão islâmica, mas também
em países onde a religião é um eterno contemplar da natureza e suas criaturas
ou mesmo onde o cristianismo já fincou raízes como verdade inquebrantável. É o
nosso caso. Por isso, falar ainda de grupos de extermínio que usam o nome de
Deus para justificar suas atrocidades contra semelhantes é algo inconcebível,
incompreensível. Mas como, Deus é por acaso um tirano, um radical extremista?
Sabemos
não ser esta a face divina de um Pai misericordioso. A face humana desse Deus
que habita nossos corações, todavia, é terrivelmente assustadora,
contraditória. Tanto no radicalismo islâmico, quanto no fundamentalismo cristão
a humanidade só encontra um rascunho da benevolência divina. Às vezes, nem
isso. Quando a rede que hoje nos interliga como raça e como seres capazes de
superar fronteiras, vencer barreiras, nos comunicarmos instantaneamente, nos
apresenta um mundo caótico e desumano – em especial com cenas macabras de
destruição e imolações em nome de Deus – há algo de muito satânico nessa
história mal escrita. Países tidos como de cultura mais ligada à tecnologia ou
mesmo ao domínio das ciências se rendem ao curandeirismo (religioso ou não) e
ao pragmatismo de negociatas com o divino, em nome de uma fé estritamente mercantilista
ou mesmo em nome de uma almejada prosperidade que às vezes tarda. Brasil e
outros mais estão nesta lista.
Já
na região que foi berço das três maiores religiões do mundo, que deveria ser o
modelo humano de tolerância e respeito, onde o monoteísmo predominante elege um
único Deus como senhor e criador de tudo, a carnificina tornou-se trivial e
monótona. Seu mais recente histórico de barbáries está em curso e assusta o
mundo. Um grupo de insurgentes radicais – que se diz defensor da fé islâmica –
se autoproclamou “estado califado” (regime pelo qual um califa tem poderes
absolutos, tanto políticos quanto religiosos) e vem dominando territórios na
Síria e no Iraque (por enquanto) ao custo de muito derramamento de sangue.
Cristãos, em especial, são perseguidos e mortos sem qualquer direito de defesa.
Soldados que defendam os territórios conquistados, depois de rendidos, são
perfilados em fila indiana e fuzilados às centenas. “Eles aterrorizam seus
inimigos demonstrando comportamento cruel”, disse uma testemunha desses fatos.
Tudo em defesa de uma fé?
Não
é possível uma resposta positiva sem questionamentos. O fato é que Deus não
está presente na selvageria que nos engole, seja aqui ou acolá. O fato mais
aterrador é a tristeza do coração divino, que não intervêm apenas em respeito
ao nosso livre arbítrio. Mesmo assim, nos cabe interrogar: “Para onde irei,
longe de vosso Espírito? Para onde fugir, apartado de vosso olhar? Se subir até
aos céus, ali estais; se descer à região dos mortos, lá vos encontrais também”
(Sl 138, 7-8). Essa é a certeza, a fé
mais translúcida e reconfortante dos que buscam Deus em meio ao caos das
contradições humanas. Ele está em tudo, tudo sabe, irá julgar...
Enquanto
isso, aos que acreditam com pureza de coração, independentemente do credo, do
país, da tribo ou casta à qual pertençam, Deus único e verdadeiro só
encontramos no exercício do Amor. “Os que põem sua confiança nele compreenderão
a verdade, e os que são fiéis habitarão com ele no amor: porque seus eleitos
são dignos de favor e misericórdia. Mas os ímpios terão o castigo que merecem
seus pensamentos, uma vez que desprezaram o justo e se separaram do Senhor”
(Sab 3, 9-10). Exatamente nesta citação está a origem de qualquer
fundamentalismo ou radicalismo. A questão é entender a imagem que trazemos de
Deus em nossos corações. De Amor ou Vingativo?
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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