MARATONA OLÍMPICA
Brasil
se prepara para sediar mais uma edição dos Jogos Olímpicos, no Rio. O evento é
oportunidade de confraternização entre os povos, através do esporte. Os
primeiros Jogos da Era Moderna surgiram em 1896, em Atenas, capital da Grécia. Por
isso essas competições possuem uma áurea mística, que relembra e homenageia o
panteão dos deuses gregos e suas lendas.
Uma
delas homenageia um desses personagens mitológicos. Diz a lenda (ou história)
que os gregos se envolveram numa sangrenta batalha contra os persas, na
planície de Marathonas, 490 anos antes de Cristo. Em menor número que seus
adversários e temerosos pelo fracasso na batalha, os soldados atenienses
deixaram uma ordem às suas mulheres: se fossem derrotados e não retornassem em
24 horas, suas mulheres deveriam matar seus filhos e se suicidar.
Surpreendentemente, venceram. A batalha foi além do tempo esperado. Então o
general Milcíades ordenou ao soldado Filípedes que corresse até Atenas e
comunicasse a vitória a seus familiares. O mensageiro saiu em disparada, para
vencer os 42 quilômetros
a tempo de evitar uma tragédia maior, o suicídio coletivo. Sua corrida foi tão
estafante que, ao chegar, pode apenas dizer: “Vencemos”. E caiu morto! Nascia
assim a prova da maratona.
O
episódio acima não deixa de ser uma referência concreta para a luta diária que
travamos pela sobrevivência. Só às portas da morte poderemos dizer: “Vencemos”.
Mas há um quesito trágico, porém essencial na compreensão dos esforços
coletivos: o sacrifício de um é a salvação dos demais. A maratona da vida exige
essa purificação pessoal: dor e sacrifício, suor e lágrimas. Qual povo, qual
fé, qual bandeira ou ideal não possui seus heróis? Sem eles suas conquistas de
nada valeriam, sua fé não teria a consistência do testemunho, suas bandeiras
tremulariam ao acaso do tempo fugaz, seus ideais seriam sufragados à menor das
ameaças...
Não
é diferente da fé cristã: o sacrifício de um é a salvação dos demais! Afinal,
como compreender a morte de Cristo... A via que nos foi dada percorrer não se
mede em quilômetros vencidos, mas a vencer. Nosso cronometro zera a cada 24
horas, a cada dia que catalogamos em nossas vidas, para recomeçar sempre,
enrijecidos pelas lições, conquistas e vitórias do dia anterior. Curiosamente,
o maior facínora dos tempos modernos, Hitler, cunhou um dia um excelente
conselho para seus soldados. Dizia ele: “Se nossa vontade for tão forte que
nenhuma privação e sofrimento possam subjugá-la, então nossa vontade e nosso
poder irão prevalecer”. Verdade nua e crua, desde que o objetivo se eleve a um
plano maior que nossas toscas aspirações de poder e glória. Um plano de
salvação, por exemplo. Mas Salvação com “s” maiúsculo. Hitler, sabemos, foi
derrotado. Churchill, seu oponente, questionava seus soldados: “Vocês perguntam,
qual o nosso objetivo? Posso responder em uma palavra: A vitória, a vitória a
qualquer preço, pois sem vitória não há sobrevivência”. Não alcançou a vitória que
imaginava sem perder muitos dos seus. Sabemos como acabou essa obsessão
mundana, cujo pano de fundo era apenas a manutenção do poder, uma vitória
terrena.
Nossa
vitória vai além. “Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo
11,25). Esse é o grande trunfo da fé
cristã, pois, como afirmou Paulo aos Romanos: “Nenhum de nós vive para si e
ninguém morre para si” (14,7). A luta cristã evoca uma esperança maior, uma
vitória jamais imaginada ou sequer desejada pelos deuses dos panteões de nossas
pequenas ambições terrenas. “Ora, a aspiração da carne é a morte, enquanto a
aspiração do espírito é a vida e a paz. Porque o desejo da carne é hostil a
Deus...” (Rom 8, 6). Então Jesus nos acena com uma palavra de ânimo e carinho:
“Coragem, eu venci o mundo!”
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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