Outro não poderia ser o título do mais novo livro do Papa Bento XVI: Luz do
Mundo. Aliás, em se tratando de uma entrevista - um bate-papo quase diário com o
jornalista alemão Peter Seewald - temos aqui seu co-autor, cuja sensibilidade, tino
profissional e fidelidade às palavras de seu interlocutor foram capazes de compilar e
apresentar ao mundo o cerne do pensamento do maior de seus líderes espirituais. Não
restam dúvidas de que, independentemente da questão religiosa, esse conluio entre
as cortinas do Vaticano, ao sabor de um bate-papo amigo e longe das pressões que a
formalidade de um cargo possa exercer interessa ao mundo. Afinal, o que realmente
pensa o Papa sobre determinados assuntos?
Há respostas para as mais diversas situações, que vão desde o uso da burca pelas
mulheres muçulmanas, o conflito histórico entre Israel e Palestina, o concubinato de
sacerdotes infiéis ao celibato, a vergonhosa história de abusos sexuais dentro de
instituições católicas até a questão do uso de preservativos no combate à AIDS. “A
mensagem de Bento XVI, recolhida na intimidade de diálogos pessoais com Seewald,
destaca-se de forma extraordinária porque é Evangelho atualizado, Boa Nova de hoje”,
comenta o portal católico Zenit. E usa das palavras do entrevistador para
concluir: “quando se escuta o Papa dessa forma e se está sentado na frente dele, percebe-
se não somente a precisão do seu pensamento e a esperança que provém da fé, mas
também se faz visível, de forma especial, um esplendor da Luz do mundo, do rosto de
Jesus Cristo, que quer ir ao encontro de cada ser humano e não exclui ninguém”.
As revelações desse livro-entrevista não param por aí. Vão além das expectativas
de uma boa leitura, pois que se torna mais que um compêndio de ensinamentos
doutrinários. É como se o próprio pontífice se assentasse à nossa frente e, num gesto de
informalidade e intimidades pessoais, pudesse conversar com o leitor com clareza e
simplicidade. Triste é observar que, mesmo diante desse diálogo singelo, muitos ainda
teimam em distorcer suas palavras. Foi o caso da imprensa brasileira, que, longe das
questões mais complexas do mundo moderno, preferiu dar destaque ao assunto que
tipifica nossa visão distorcida dos conflitos humanos, nossa promiscuidade. Camisinha
pode ou não pode? “Concentrar-se só no preservativo quer dizer banalizar a
sexualidade” - foi um dos comentários do Papa, que acertou em cheio essa triste
preocupação latina com sua própria consciência e concluiu: “No entanto, este não é o
verdadeiro modo para vencer a infecção do HIV”. Ora, para cada vírgula há um sentido
e não podemos tomar as palavras no seu aspecto bruto, sem respeitar as devidas
reticências e pontuações. Não, o Santo Padre não liberou o uso irrestrito dos
preservativos em voga, mas, antes, alertou-nos para a necessidade premente de
humanizar nossa sexualidade. Ou seja, promiscuidade é animal e fidelidade é racional.
Assim, ponderando os ensinamentos de Cristo à luz da coerência que Ele nos
exige, saberemos de antemão interpretar e acatar as exigências da Igreja àqueles que
optam pelo seu seguimento. Cristão consciente se molda mais facilmente à Doutrina que
segue. Pois que de Cristo recebemos uma única e salutar exigência, que nunca poderá
ser escondida, abafada ou extirpada da nossa postura no mundo: ser luz! Esse é o rótulo
do cristão no mundo. Independe de seus conflitos. Independe do belicismo humano, da
falta de ética, de humanidade, de tolerância, de respeito mútuo, da sexualidade
irresponsável, de compreensão da própria dignidade - esta que coloca o ser humano
acima das demais criaturas. “Vós sois a Luz do Mundo”. E essa luz não se retém para si,
nem se esconde sob a mesa de nossos dilemas e conflitos existenciais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário