domingo, 18 de janeiro de 2015

A REVOLUÇÃO DA FÉ

A REVOLUÇÃO DA FÉ
            Estamos atravessando uma verdadeira revolução religiosa no mundo. Queiramos ou não, o conceito de fé não mais é o mesmo depois do afloramento do radicalismo, seja ele muçulmano, cristão, budista ou judaico. Mesmo o radicalismo dos que se dizem ateus é hoje uma corrente com vastas e sérias influências a fomentar muitas das ações de violência que estamos assistindo. O pensamento humano perdeu o rumo da razão. A fé de muitos titubeia em meio ao caos de uma humanidade sedenta de Deus, mas insegura diante dos caminhos que possam levá-la ao seu encontro. Matar, executar, praticar o terrorismo, desestabilizar nações, semear discórdias entre raças e povos, não é, com certeza, o caminho de Deus.
            Antes é bom lembrar o sentido etimológico da religião (do verbo latino religare: reatar, construir pontes, unir céus e terra, Deus e os homens) para nos apercebermos o quão distante esta função está da realidade que cerca a prática e distancia a prédica. Todas as grandes religiões têm seu código de conduta, suas escrituras e mandamentos. Todas buscam (ou pelo menos deveriam buscar) a confraternização humana diante de seu Criador. Agir diferentemente dos ensinamentos que apregoam é, no mínimo, alimentar as desavenças com maiores mentiras e dissimulações próprias das ações demoníacas, nunca divinas. Aqui nasce o fanático. Também o terrorista. Cegos em suas razões, nunca enxergarão as razões do outro. O que deveria ser ponto de convergência na espiritualidade humana, torna-se estopim de divergências. E o temor a Deus se torna um temor aos semelhantes.
            Fico a imaginar as consequências dessa cegueira religiosa. Não estamos livres dela, ao contrário, seja qual nossa fé, ela só será verdadeira quando respeitar a fé alheia. Como cristão, reconheço essa falha também entre nós. O respeito humano (vergonha de se dizer seguidor de Cristo) é o maior empecilho a impedir maiores adesões à pureza da fé que professamos. Queremos impor nossa fé apregoando suas belezas e nossas verdades; e nos esquecemos que à frente dela está a beleza e a verdade de Deus, que usa de todos os meios para se manifestar entre nós. Essa verdade não nos pertence, mas é prerrogativa do Criador de tudo, de todos. “Não é o vigor do cavalo que lhe agrada, nem ele se compraz nos jarretes do corredor. Agradam ao Senhor somente os que o temem, e confiam em sua misericórdia” (Sl 146, 10-11). Não é a beleza da nossa fé que nos garante a vitória, mas antes o respeito Àquele que a despertou em nós, com a certeza de seu Amor e sua benevolência para com todos que o temem.
            Jesus foi sucinto nessa questão. “Não tenhais medo daqueles que matam o corpo e depois disto nada mais podem fazer. Mostrar-vos-ei a quem deveis temer: temei Aquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno; sim, eu vo-lo digo, temei a este”. (Lc 12, 4-5) Não há como construir caminho diferente. Ou nos perfilamos no objetivo da caminhar para Deus respeitando a lei estabelecida – que em qualquer religião tem por princípio o amor aos semelhantes e o temor a Deus – ou mergulhamos de corpo e alma na Geena do caos e da perdição de todos. “Eis o momento para apelar para a paciência dos santos, dos fiéis aos mandamentos de Deus e à fé em Jesus”. (Ap 14, 12). Eis o momento para demonstrar nossa fé...
            Toda revolução é purificadora. Toda provação resulta em alívio e esperança renovada. A transformação que se processa na espiritualidade humana tem como meta uma fé única, preciosa e mais consistente, para que o mundo possa enfim entender o que Deus quer de nós. Os que perseverarem verão esse momento de glória. “Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. Perseverai no meu amor”, exortava Jesus, ao mesmo tempo em que revelava sua missão. “Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa” (Lc 15, 9 e 11). Esse dia ainda virá...
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br


                                                                                                                                                                                                          
FÉ A BALA E FOGO
            Pobres criaturas humanas que já não enxergam um palmo à frente de sua própria podridão! A putrefação do que tínhamos de mais precioso como bem coletivo, que lapidamos suada e pacientemente como jóia do mais alto quilate e que nossa história modulou ao custo de vários milênios de encontros e desencontros, descobertas e experienciais pessoais ou coletivas, vai aos poucos tornando irrespirável a atmosfera da esperança humana. Falo da fé, o mais puro e revigorante oxigênio capaz de fornecer vida nova às combalidas relações entre povos e raças, filosofias e correntes religiosas que borbulham desde sempre no seio das civilizações. “Je suis”. Eu sou, sempre fui, sempre serei. Ou, na tradição religiosa “Eu sou aquele que é”...
            A fé de muitos está abalada pela metralhadora do fanatismo. Não, não digo religioso, pois fanatismo e religião não se combinam, não se coadunam como termo único, não se conjugam e nem se podem misturar. Um é água, outro óleo. Fé, ou se tem e se pratica, ou não passa de uma teoria obscura, cuja visão superficial é mais perigosa que a ogiva de muitas bombas. O que estamos assistindo não é um mero filme de terror, mas pura e simplesmente consequência de uma omissão mundial. O homem esquece suas origens. A humanidade se envergonha em admitir suas crenças. Deus e seus ensinamentos tornam-se dejetos, lixos do passado. Então a violência, o fanatismo, toda e qualquer manifestação de sectarismo racial ou religioso é culpa única e exclusiva da fé que se professa? Não cito esta ou aquela religião, este ou aquele seguimento espiritualista, filosófico ou cultural. Antes, é preciso lembrar que as maiores correntes religiosas do mundo têm em comum a crença num Deus único, criador de tudo. Nesse ponto está a contradição: por que nos destruirmos se somos herdeiros de uma fé única?
            “Je suis”, bradam os franceses clamando pela liberdade de expressar o que pensam. Separam, semanticamente, o “eu” do ato de “existir”, ser alguém em meio a tantos que diferentemente olham o mesmo céu, reconhecem o mesmo Deus. Se unissem o grito das ruas com a realidade da fé, talvez pudessem melhor compreender as palavras daquele que um dia se deixou batizar como “Jesus”, o mestre cristão. “Eu sou o pão que desci dos céus”. Eu sou. Defender ou não uma corrente do pensamento humano, seja liberal ou radical, nunca foi preocupação de Jesus, mas antes exaltou com veemência sua origem e propósito de vida: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrair” (Jo 6,44). E, mais adiante, concluiu: “E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo” (Jo 6, 51). Ou seja, a fé é atração, magnetismo divino, que só cresce quando alimentada pela palavra, aquela que dá a vida se preciso for, mas não entrega os pontos diante das ameaças contra sua integridade. O limite das nossas crenças é a liberdade de um e de outro, a caridade recíproca.
            As religiões nos ensinam um princípio: fé, esperança e caridade. Nesse pedestal de virtudes está o denominador comum que desqualifica qualquer ato radical em nome de uma crença. Defender qualquer corrente do pensamento humano com unhas e dentes, balas e canhões, é próprio da irracionalidade animal. Estes, sim, defendem seus territórios e suas rações com as armas próprias de sua natureza sempre em guerra pela sobrevivência. Já à raça que se diz pensante, que percebe sua insignificância diante de um universo ainda por descobrir e que sente suas angústias se agigantarem quando longe do amparo divino, nada justifica a falta de racionalidade. Um único caminho nos resta: clamar pela piedade de Deus. “Senhor, aumente a nossa fé! Senhor, que o mundo não perca a esperança! Senhor, que a caridade seja identidade entre irmãos, entre iguais na esperança e na fé que nos nutre! Liberdade, igualdade, fraternidade!
            A única chama que justifica a fé humana é o fogo do Espírito Santo. “Mas como eu desejaria que ele já estivesse acesso!” – exclama ainda Jesus.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br



domingo, 21 de dezembro de 2014

ENDIREITANDO VEREDAS

ENDIREITANDO VEREDAS
            Depois da queda do muro de Berlim, o acontecimento mais significativo para a Paz entre os povos – talvez o fato mais surpreendente no caótico cenário da diplomacia mundial – foi o restabelecimento do diálogo entre Cuba e EUA, anunciado em data histórica (17.12.2014) e simultaneamente pelos dirigentes das duas nações. Um trabalho feito em surdina, com a mediação do papa Francisco e diplomatas de vários países que ajudaram de uma forma ou de outra. Foram quase cinco décadas de intransigências de ambos os lados, que proporcionou a várias gerações de cubanos um total isolamento do mundo, do progresso e do mais básico dos direitos humanos, a liberdade de ir e vir.
            População majoritariamente cristã (85 % se declaram batizados) apenas 2% se diz católicos, mais por medo das habituais perseguições e perdas de oportunidades junto ao partido comunista do que pela própria fé. Os católicos da ilha dos irmãos Castro sempre se sentiram acuados dentro do sistema. Foi a partir da publicação do livro “Fidel e a Religião” (1985) – uma longa entrevista que o ditador cubano deu ao brasileiro Frei Beto e que vendou mais de um milhão de exemplares – que o católico cubano começou a perceber que poderia ganhar liberdade para professar sua fé. Em 1998 o papa João Paulo II visitou a ilha e solidificou um pouco mais a liberdade religiosa. Em 2012 o papa Bento XVI repetiu a visita, conseguindo então que se restaurassem as datas de Natal e Páscoa como festas religiosas, ampliando significativamente o diálogo entre o Estado cubano e a Sé católica.
            Desde então, já com a transmissão de cargo entre os irmãos, muitas das flexibilizações implantadas pelo novo dirigente deram sinais de possibilidades de diálogo mais amplo com o mundo. Nesse hiato de novas esperanças é que entrou a carismática figura do papa Francisco, trocando e-mails entre Obama e Raúl e forçando um diálogo à luz das práticas cristãs. Quebraram-se as resistências e o próprio Vaticano ofereceu seus salões para acordos mais concretos. Tudo muito bem pensado e planejado de forma a não melindrar opções políticas. À Igreja interessava tão somente a alma do povo cubano, sua fé, sua gente... As relações se costuravam com o cheiro de vela e muitas orações. Especialmente com a força transformadora do Evangelho, fonte de todo consenso que se busque neste mundão de Deus. “Buscai e achareis!”
            Então o milagre acontece. Nada mais significativo neste momento histórico do que aqui registrar as palavras do cardeal cubano Jaime Ortega, um autêntico sobrevivente desses anos de chumbo – que até cortador de cana um dia foi – e que hoje dirige a sofrida igreja daquela ilha: “Como católicos cubanos, estamos muito orgulhosos da posição firme do papa de, como bom pastor, reconciliar o que estava dividido, como manda o Senhor”.
            Vamos acreditar. Afinal, como bem afirmou o presidente Obama: “Somos todos americanos”. Somos todos membros de um mundo novo, sem grandes rancores inter-raciais, sem radicalismos religiosos e predominantemente cristãos.  Um continente povoado por todos os povos do mundo, onde o encontro maior e mais representativo se deu à luz de novas esperanças e oportunidades. Aqui a humanidade descobriu suas maiores virtudes, o diálogo, a tolerância, o respeito mútuo. Divisões entre nós não tem sentido. Ou, como recorda uma anedota assaz pertinente: Fidel e Guevara descansam numa praia cubana, contemplando o horizonte e refletindo sobre seus feitos. Um deles interroga: “Será que um dia Cuba vai reatar suas relações com os EUA?” Ao que o outro responde com ironia, sem muito pensar: “Só quando o papa for argentino e o presidente americano for um negro”. Dito e feito.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br


ENDIREITANDO VEREDAS

ENDIREITANDO VEREDAS
            Depois da queda do muro de Berlim, o acontecimento mais significativo para a Paz entre os povos – talvez o fato mais surpreendente no caótico cenário da diplomacia mundial – foi o restabelecimento do diálogo entre Cuba e EUA, anunciado em data histórica (17.12.2014) e simultaneamente pelos dirigentes das duas nações. Um trabalho feito em surdina, com a mediação do papa Francisco e diplomatas de vários países que ajudaram de uma forma ou de outra. Foram quase cinco décadas de intransigências de ambos os lados, que proporcionou a várias gerações de cubanos um total isolamento do mundo, do progresso e do mais básico dos direitos humanos, a liberdade de ir e vir.
            População majoritariamente cristã (85 % se declaram batizados) apenas 2% se diz católicos, mais por medo das habituais perseguições e perdas de oportunidades junto ao partido comunista do que pela própria fé. Os católicos da ilha dos irmãos Castro sempre se sentiram acuados dentro do sistema. Foi a partir da publicação do livro “Fidel e a Religião” (1985) – uma longa entrevista que o ditador cubano deu ao brasileiro Frei Beto e que vendou mais de um milhão de exemplares – que o católico cubano começou a perceber que poderia ganhar liberdade para professar sua fé. Em 1998 o papa João Paulo II visitou a ilha e solidificou um pouco mais a liberdade religiosa. Em 2012 o papa Bento XVI repetiu a visita, conseguindo então que se restaurassem as datas de Natal e Páscoa como festas religiosas, ampliando significativamente o diálogo entre o Estado cubano e a Sé católica.
            Desde então, já com a transmissão de cargo entre os irmãos, muitas das flexibilizações implantadas pelo novo dirigente deram sinais de possibilidades de diálogo mais amplo com o mundo. Nesse hiato de novas esperanças é que entrou a carismática figura do papa Francisco, trocando e-mails entre Obama e Raúl e forçando um diálogo à luz das práticas cristãs. Quebraram-se as resistências e o próprio Vaticano ofereceu seus salões para acordos mais concretos. Tudo muito bem pensado e planejado de forma a não melindrar opções políticas. À Igreja interessava tão somente a alma do povo cubano, sua fé, sua gente... As relações se costuravam com o cheiro de vela e muitas orações. Especialmente com a força transformadora do Evangelho, fonte de todo consenso que se busque neste mundão de Deus. “Buscai e achareis!”
            Então o milagre acontece. Nada mais significativo neste momento histórico do que aqui registrar as palavras do cardeal cubano Jaime Ortega, um autêntico sobrevivente desses anos de chumbo – que até cortador de cana um dia foi – e que hoje dirige a sofrida igreja daquela ilha: “Como católicos cubanos, estamos muito orgulhosos da posição firme do papa de, como bom pastor, reconciliar o que estava dividido, como manda o Senhor”.
            Vamos acreditar. Afinal, como bem afirmou o presidente Obama: “Somos todos americanos”. Somos todos membros de um mundo novo, sem grandes rancores inter-raciais, sem radicalismos religiosos e predominantemente cristãos.  Um continente povoado por todos os povos do mundo, onde o encontro maior e mais representativo se deu à luz de novas esperanças e oportunidades. Aqui a humanidade descobriu suas maiores virtudes, o diálogo, a tolerância, o respeito mútuo. Divisões entre nós não tem sentido. Ou, como recorda uma anedota assaz pertinente: Fidel e Guevara descansam numa praia cubana, contemplando o horizonte e refletindo sobre seus feitos. Um deles interroga: “Será que um dia Cuba vai reatar suas relações com os EUA?” Ao que o outro responde com ironia, sem muito pensar: “Só quando o papa for argentino e o presidente americano for um negro”. Dito e feito.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br


domingo, 30 de novembro de 2014

MARATONA OLÍMPICA

MARATONA OLÍMPICA
            Brasil se prepara para sediar mais uma edição dos Jogos Olímpicos, no Rio. O evento é oportunidade de confraternização entre os povos, através do esporte. Os primeiros Jogos da Era Moderna surgiram em 1896, em Atenas, capital da Grécia. Por isso essas competições possuem uma áurea mística, que relembra e homenageia o panteão dos deuses gregos e suas lendas.
            Uma delas homenageia um desses personagens mitológicos. Diz a lenda (ou história) que os gregos se envolveram numa sangrenta batalha contra os persas, na planície de Marathonas, 490 anos antes de Cristo. Em menor número que seus adversários e temerosos pelo fracasso na batalha, os soldados atenienses deixaram uma ordem às suas mulheres: se fossem derrotados e não retornassem em 24 horas, suas mulheres deveriam matar seus filhos e se suicidar. Surpreendentemente, venceram. A batalha foi além do tempo esperado. Então o general Milcíades ordenou ao soldado Filípedes que corresse até Atenas e comunicasse a vitória a seus familiares. O mensageiro saiu em disparada, para vencer os 42 quilômetros a tempo de evitar uma tragédia maior, o suicídio coletivo. Sua corrida foi tão estafante que, ao chegar, pode apenas dizer: “Vencemos”. E caiu morto! Nascia assim a prova da maratona.
            O episódio acima não deixa de ser uma referência concreta para a luta diária que travamos pela sobrevivência. Só às portas da morte poderemos dizer: “Vencemos”. Mas há um quesito trágico, porém essencial na compreensão dos esforços coletivos: o sacrifício de um é a salvação dos demais. A maratona da vida exige essa purificação pessoal: dor e sacrifício, suor e lágrimas. Qual povo, qual fé, qual bandeira ou ideal não possui seus heróis? Sem eles suas conquistas de nada valeriam, sua fé não teria a consistência do testemunho, suas bandeiras tremulariam ao acaso do tempo fugaz, seus ideais seriam sufragados à menor das ameaças...
            Não é diferente da fé cristã: o sacrifício de um é a salvação dos demais! Afinal, como compreender a morte de Cristo... A via que nos foi dada percorrer não se mede em quilômetros vencidos, mas a vencer. Nosso cronometro zera a cada 24 horas, a cada dia que catalogamos em nossas vidas, para recomeçar sempre, enrijecidos pelas lições, conquistas e vitórias do dia anterior. Curiosamente, o maior facínora dos tempos modernos, Hitler, cunhou um dia um excelente conselho para seus soldados. Dizia ele: “Se nossa vontade for tão forte que nenhuma privação e sofrimento possam subjugá-la, então nossa vontade e nosso poder irão prevalecer”. Verdade nua e crua, desde que o objetivo se eleve a um plano maior que nossas toscas aspirações de poder e glória. Um plano de salvação, por exemplo. Mas Salvação com “s” maiúsculo. Hitler, sabemos, foi derrotado. Churchill, seu oponente, questionava seus soldados: “Vocês perguntam, qual o nosso objetivo? Posso responder em uma palavra: A vitória, a vitória a qualquer preço, pois sem vitória não há sobrevivência”. Não alcançou a vitória que imaginava sem perder muitos dos seus. Sabemos como acabou essa obsessão mundana, cujo pano de fundo era apenas a manutenção do poder, uma vitória terrena.
            Nossa vitória vai além. “Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11,25).  Esse é o grande trunfo da fé cristã, pois, como afirmou Paulo aos Romanos: “Nenhum de nós vive para si e ninguém morre para si” (14,7). A luta cristã evoca uma esperança maior, uma vitória jamais imaginada ou sequer desejada pelos deuses dos panteões de nossas pequenas ambições terrenas. “Ora, a aspiração da carne é a morte, enquanto a aspiração do espírito é a vida e a paz. Porque o desejo da carne é hostil a Deus...” (Rom 8, 6). Então Jesus nos acena com uma palavra de ânimo e carinho: “Coragem, eu venci o mundo!”

WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O TERRORISMO DAS FOFOCAS

O TERRORISMO DAS FOFOCAS
            Não à toa, um dito popular diz que a arma mais perigosa da face da terra é a língua humana. Engole nações inteiras, destrói famílias, aniquila o semelhante com um sorriso nos lábios e veneno no coração. Por trás de uma língua ferina há sempre a bolsa abastecida de um veneno mais mortífero que o das mais peçonhentas serpentes que se arrastam aos nossos pés. A língua mata mais que as armas da imbecilidade humana. Um comentário sem o lastro da verdade, uma observação maldosa, uma ironia gratuita, uma afirmativa preconceituosa, uma anedota racista, uma palavra solta, sem que dela se meçam as consequências, tudo isso destrói vidas.
            Seguindo esse raciocínio, recentemente o papa foi até radical ao expor sua opinião: “Muitas vezes é melhor brigar com um amigo do que falar por trás”. Mas como, um papa aconselhando contendas? Isso mesmo: é melhor colocar às claras eventuais divergências, mesmo que estas custem alguns sopapos mútuos, do que deixar crescer situações de fofocas e diz-que-diz gratuitos, mas devastadores. Foi incisivo seu conselho: “Por favor, que não exista entre vocês o terrorismo das fofocas... Joguem isso fora! Que haja fraternidade! E se você tem algo contra o seu irmão, diga-o na cara... Algumas vezes vai acabar em socos; não é problema. É melhor isso do que o terror das fofocas”, disse Francisco.
            O controverso conselho não difere dos ensinamentos de Cristo. Que seu sim seja sim e seu não, não. “Eu vos digo, no dia do juízo os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado” (Mt 12, 36-37). Quer mais? Então anote: “Pois o que dissestes às escuras será dito à luz; e o que falastes ao ouvido, nos quartos, será publicado de cima dos telhados” (Lc 12,3). Ou então essa: “Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de mim?” (Jo 18.34). A fofoca que corria solta no processo de julgamento de Cristo foi um dos fatores que forçaram sua condenação. A fofoca matou Jesus.
            Mesmo assim, o livro dos Provérbios já alertava o povo de Deus quanto ao perigo das fofocas. Das páginas bíblicas é o que mais referencias traz sobre o assunto. “Quem despreza seu próximo demonstra falta de senso, o homem sábio guarda silêncio. O perverso trai os segredos” (11,12-13). “O falador fere com golpes de espada, a língua dos sábios, porém, cura” (12,18). “O perverso excita questões, o detrator separa os amigos” (16,28). “A boca do tolo é a sua ruína, seus lábios são uma armadilha para a sua própria vida. As palavras do delator são como gulodices, penetram até às entranhas” (18, 7-8). “O mexeriqueiro trai os segredos, não te familiarizes com um delator” (20,19). Ou, por fim: “Quem vigia sua boca e sua língua preserva sua vida da angústia” (21,23).
            A milenar sabedoria dos povos faz da prudência ao falar uma virtude. Nada há de mais vil e baixo que o falso testemunho, a língua solta. Palavras são como penas ao vento. Tente ajuntá-las depois de espalhá-las sob brisa qualquer. Da mesma forma nossas calúnias e difamações, nosso afirmar sem provas, nosso dizer por ouvir falar... Freio na língua é, portanto, virtude cristã, que impossibilita a ação da mais devastadora e mortífera das armas humanas, a fofoca.
            Lembrando aos Romanos o perigo da fala sem critérios, Paulo recorreu a trechos das Escrituras, para falar que o pecado da língua é universal, pois que todos nós estamos sujeitos a ele. “A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas enganam; veneno de áspide está debaixo dos seus lábios (Sl 5,10 ;139,4). A sua boca está cheia de maldição e amargor” (Sl 9,28). E concluiu: “Ora, sabemos que tudo o que diz a Lei, diz aos que estão sujeitos a ela, para que toda boca fique fechada”... (Rom 3, 13-19). Porque da Palavra de Deus só exala o perfume da Verdade, a Lei do Amor.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br


           



domingo, 16 de novembro de 2014

O JUÍZO FINAL

O JUÍZO FINAL
            Nenhum ser humano foi capaz de descrever os horrores do Inferno com fidelidade. Mesmo porque ninguém de lá voltou para nos contar como é. Quem chegou mais próximo em sua narrativa imaginária foi o florentino Dante Alighieri (1265), em sua obra Divina Comédia. Assombrou o mundo com descrições pormenorizadas do que poderia ser o sofrimento eterno das almas distantes de Deus. Tão horripilantes e cheias de detalhes além da imaginação, que de sua obra nasceu o vocábulo “dantesco”, para designar tudo de mais exacerbado na imaginação humana.
            A visão desse inferno me surge diante do noticiário de minha pátria, minha pobre e expurgada pátria! Sem mais como denominar os sucessivos escândalos políticos contra o pobre erário do país, eis que chegamos agora à operação Juízo Final... Fim dos tempos ou fim de uma Era de gatunice e corrupção sem limites? A cada linha que percorro cresce minha indignação e revolta contra aqueles que foram com tamanha sede ao... aos cofres do tesouro público. Nomes bem conhecidos de todos nós (peixes grandes – cobras criadas) que deixam estarrecidos e boquiabertos os pobres cidadãos de bem dessa pátria à qual bradamos nosso “salve, salve”. Nem Dante seria capaz de imaginar tamanha audácia – cara de pau mesmo – para executar com riqueza de detalhes a mais dantesca ação de rapina que esse país já presenciou. Isso tudo contra sua maior fonte de recursos na atualidade. Isso tudo à sombra – e até com a conivência – de grupelhos políticos que se acham senhores na arte do mando e desmando.
            Mas a visão do Inferno está sempre associada ao Juízo Final. Desse ninguém escapará. Nem a pobre nordestina que aceitou uma prótese dentária – um sorriso falso – pela conivência eleitoral, nem o mais alto dirigente empresarial que subornou políticos com as moedas enegrecidas do fundo dos infernos, donde se dizia que o petróleo era nosso. Muito menos os senhores feudais com um mandato político transitório, portanto finito, cuja prestação de contas um dia será apresentada e publicada sob a criteriosa transparência da Verdade – essa que sempre triunfa. Cada qual terá o quinhão que bem merecer. Aos justos, a bênção. Aos maus, a maldição. “Eu vos digo: fazei-vos amigos com a riqueza injusta, para que, no dia em que ela vos faltar, eles vos recebam nos tabernáculos eternos” (Lc 16,9). Ou seja: a condenação final colocará num mesmo lugar e para todo o sempre todos os que constituíram em vida seus “clubes” de gatunagem, para que possam usufruir, ao menos, da companhia de iguais na dor e na angústia do infernal arrependimento. Tarde será!
            Na visão de Dante, o portal do inferno não possui portas, grades ou cadeados. Apenas uma frase lembra aos que ali chegam: “Deixem para traz qualquer esperança”. Aos injustos e assaltantes está reservado um rio de sangue fervente, onde apenas seus peitos e sobrancelhas ficam de fora. Isso para lembrar que a usurpação do alheio custou-lhe sangue e suor. De nada valeu ao usurpador o peito inflado pela arrogância, pela autoridade que lhe confiaram, pelo respeito que acreditaram merecer, se não pestanejaram na ação do uso e abuso da confiança neles depositada. Tristes estes que tiraram do povo um voto de respeito, esperança, fé em dias melhores. Merecem mesmo o fogo eterno, que arde por dentro, mas nunca consome.
            Seja esse o Juízo Final! “Presta conta da tua administração, pois já não poderás administrar meus bens” (Lc 16). O povo já se cansou dessa cantilena sem fim. Chega! A ira divina não é piada de caserna, nem crença que se despreze. Talvez sejamos nós uma divina comédia, um amontoado de incrédulos que se esqueceram da própria dignidade. “Caí sobre nós, e escondei-nos da face dAquele que está sentado no trono...” (Ap 6,16). O julgamento virá sobre todos. “Quanto ao servo inútil, jogai-o lá fora, na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes!” (Mt  25, 30) O Juízo Final está chegando!

WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br