O SINAL DA VITÓRIA
Quando
o imperador Constantino - ameaçado em sua autoridade até então compartilhada
por outros imperadores romanos - resolveu unificar o Império, encontrou forte
resistência. Já às portas de Roma, teve que lutar com o poderoso exército de
seu rival Maxêncio, com quem disputava a coroa. Avaliadas as estratégias, logo
se percebeu a quase impossibilidade de vitória. Mas o imperador tinha um
trunfo: simpático à tenacidade e audácia dos cristãos, que há quase três
séculos eram perseguidos e martirizados sistematicamente e não davam sinais de
esmorecimento, resolveu pedir auxílio ao Deus cristão. Em vista desta humilde e
fervorosa oração, eis que no céu apareceu uma cruz luminosa, circundada pelas
palavras “In hoc signo vinces”, ou seja: com este sinal vencerás!
Diz
a história que o próprio Cristo lhe apareceu em sonho, ordenando-lhe que
mandasse fabricar estandartes segundo o modelo da cruz de sua visão. Assim se
fez. Além da cruz, o novo estandarte trazia monograma das iniciais de Cristo e
a imagem do imperador. Com esse lábaro, os soldados derrotaram seus inimigos.
Maxêncio afogou-se no rio Tibre e Roma abriu as portas ao novo imperador. Era o
ano de 313 DC, quando se publicou o famoso edito de Milão, tornando cristão todo
o império romano, o maior perseguidor que a fé cristã já possuiu.
A
partir dessa mudança, a cruz tornou-se o maior símbolo do cristianismo. Tão
importante e fundamental na vida cristã, que a Igreja reserva-lhe uma data em
especial, 14 de Setembro, para celebrarmos a Festa de Exaltação da Santa Cruz. Não
se trata de um rito simbólico sem maiores atribuições, qual o respeito que se
deve ao madeiro que foi instrumento da paixão e morte de um Deus. É um momento
propício para se dar mais graças pela fé que seu simbolismo irradia. Nada de
divino, nem de idolatria, nem de fanatismo puro e simples, mas respeito a um
ícone sagrado, sobre o qual a própria vítima um dia assim se referiu: “Quando
me levantarem sobre o madeiro, atrairei todos a mim”. Desde então, o magnetismo
da cruz faria parte da vida cristã. A cruz e Cristo seriam um só, sinal de
aparente derrota, mas também fascinante vitória.
A
primeira e histórica vitória do cristianismo sobre seus perseguidores, nos anos
trezentos, não foi só o fato de ser adotado por um império que sempre o
subjugou. Curiosamente, foi a própria mãe do imperador Constantino (hoje
conhecida como Santa Helena) quem por primeiro se preocupou em resgatar a
história da Igreja agora oficializada pelo Império. No ano de 326 ela realizou
uma peregrinação aos lugares santos de Jerusalém e, segundo a tradição, lá
encontrou a verdadeira cruz, muito bem oculta e preservada numa antiga mina de
minério, próximo ao local do antigo Gólgota. Helena e Constantino construíram a
primeira igreja dedicada à Santa Cruz e em 14 de setembro de 335 parte da cruz
verdadeira ali foi exposta à veneração do povo. Hoje há fragmentos dessa cruz
espalhadas por vários países da Europa, região do antigo Império Romano. Alguns
desses fragmentos são considerados suspeitos de autenticidade, mas nenhum deles
desmerecedores do respeito que seu simbolismo carrega: com este sinal vencerás!
Como vemos, o símbolo da cruz foi reconhecidamente instrumento das muitas
vitórias de um imperador sabidamente poderoso, mas igualmente frágil.
Não
nos limitemos ao aspecto do poder e glória dos “impérios” que almejamos
conquistar em nossas vidas. Certamente Deus concedeu a Constantino uma aparente
vitória terrena, visando por extensão a vitória maior de um imperador submisso
ao sinal da cruz e um filho respeitoso à sensibilidade maternal. Santa Helena,
mãe de um imperador, reconhecidamente foi uma das primeiras santas da fé cristã
a entender, respeitar e restaurar símbolos de fé como instrumentos de uma
soberania maior que qualquer império terreno. O amor à cruz de cada dia é a
arma das vitórias cristãs.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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