domingo, 27 de janeiro de 2013

UM DESEJO DIVINO


UM DESEJO DIVINO

            Mais uma Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos terminou em brancas nuvens. Audaciosa essa minha afirmativa, mas é isso o que vejo diante da gritante falta de empenho de muitos cristãos quando o assunto é a unidade. Muitos até torcem o nariz, numa atitude de indiferença ou rejeição ao assunto. No fundo, no fundo, o que permeia esse desinteresse é a petulância e a arrogância de muitos, por acreditarem que só na sua Igreja reside a verdadeira Salvação.

            Ah, cristãos de fachada! Ainda não perceberam o quanto de mal fazem à humanidade, por se acharem donos da Verdade. Impedem a construção do Reino apenas e tão somente pela falta de um testemunho fundamental na vida cristã: a unidade. Enquanto persistir essa nódoa vergonhosa entre as comunidades cristãs, enquanto muitas dessas igrejas tentarem difundir a Boa Nova de Cristo à maneira dos pagãos, que se perdiam na idolatria de centenas e centenas de deuses construídos e inventados à mercê de suas necessidades ou fobias, o mundo continuará nos olhando com descrença e ironia. O amor “ágape” estará distante da maior exclamação que a história do cristianismo já ouviu da boca de povos estranhos à nossa fé: “Vede como eles se amam”!

            Para centrar essa reflexão numa passagem bíblica, o Papa nos propôs uma passagem do livro de Miquéias, que enumera “o que o Senhor quer de nós” (6,8) São apenas três atitudes: praticar a justiça, amar a bondade e andar com humildade diante do nosso Deus. Bento XVI, falando em audiência aos irmãos luteranos da Igreja da Finlândia, assim interpretou esse texto: “Andar humildemente na presença do Senhor, em obediência à sua palavra de salvação e com a confiança no seu plano de graça, é uma mostra eloquente não só da vida de fé, mas também do nosso caminho ecumênico rumo à unidade plena e visível de todos os cristãos”.

            Soldados divididos são alvos fáceis do inimigo. O que vemos acontecer dentre os cristãos, nos dias de hoje, é uma vergonhosa disputa entre irmãos pela herança paterna. A continuar nessa marcha, engoliremos uns aos outros. Nada justifica essa guerra surda entre nós, conquanto o mundo clama por um referencial de harmonia duradoura, de justiça e bondade, de amor e paz, que ultrapasse a triste realidade do homem sem Deus. O mundo busca alternativas, mas nenhum testemunho de fé poderá convencer mais que a unidade daqueles que dizem acreditar nesta ou naquela doutrina. O que fizemos da nossa unidade? Eis o maior pecado daqueles que se dizem cristãos...

            Não à toa, São Jerônimo um dia também se viu atormentado com esta questão: “O que o Senhor quer de nós?” Em sonho, viu Jesus à sua frente e de pronto se preocupou em servir-lhe. “Dou-lhe tudo o que tenho, até meu coração”. Ao que Cristo retorquiu: “Seu coração apenas não é suficiente”. Inquieto, Jerônimo lhe ofereceu também sua alma. Mais uma vez, Jesus rejeitou. “Por que levaria o que já me pertence?” Mas a obstinação do santo em alegrar seu mestre era tamanha que lhe ofereceu então a própria vida. E Jesus também a rejeitou, pois esta já era uma dádiva divina e nem mesmo Ele poderia aceitá-la. Afinal, a vida que Deus nos deu é nossa, somente nossa e sobre ela prestaremos conta. Decepcionado, o santo arriscou então uma última e reveladora pergunta: “Afinal, Senhor, o que queres de mim?” Sorrindo, aquele Cristo dos sonhos lhe respondeu: “De ti e de teus irmãos quero uma só coisa, os pecados que cometem”.

             O que o Senhor quer de nós? Os pecados que sua Igreja ainda comete, tais como a petulância de donos da Verdade, a arrogância diante do mundo e dos irmãos, a intransigência com seus credos e dogmas, as distorções evangélicas para benefícios pessoais, a desarmonia entre filhos dum mesmo Pai, a falta de unidade em suas práticas.

WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

 

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