domingo, 13 de abril de 2014

UM DEUS APAIXONADO

UM DEUS APAIXONADO
            O verdadeiro amor está sempre próximo da dor. Quem já amou verdadeiramente sabe disso. Não há amor sem sofrimento. Não há paixão sem dor. Por isso dizemos que a morte de Cristo foi sua paixão, sua prova de amor incondicional. Só o calvário de Cristo, palco de sua grande paixão, foi capaz de definir, em plenitude, a dimensão do amor de Deus por sua criatura maior, o ser humano.
            Falta-nos a compreensão desse amor. Paixão que se sacrifica, que dá a vida, que chega aos extremos da dor e do abandono, da repulsa e da incompreensão, mas mesmo assim persiste, nunca será um sentimento mesquinho, meramente humano ou ocasional. Às vezes dizemos enlouquecer de amor por alguém; às vezes pensamos sucumbir pela não correspondência ou desejamos morrer a um simples sinal de indiferença da pessoa que elegemos como merecedora de todos os nossos sentimentos ou, por vezes, nos desiludimos para sempre por termos feito da pessoa amada a razão de ser de nossa existência. E, quase sempre, descobrimos não ser bem assim. Então nos vem a pergunta fatal: o verdadeiro amor, existe?
            Ora, a resposta parece simples quando se está apaixonado.            Mais ainda quando a descoberta desse amor é impulsionada pelos hormônios e neurônios da adolescência, do primeiro amor, aliada à atração física, à descoberta do outro como complemento, extensão da própria vida... Ah, paixão! Façamos, então, essa pergunta a um casal de dez anos de vida a dois. A outro de vinte, de quarenta, sessenta... Vovô, vovó: o verdadeiro amor; existe?  Teríamos respostas ambíguas, incoerentes, contraditórias com muitos históricos de vida a dois que bem conhecemos, mas no fundo, no fundo, só o fato da resposta nos ser dada por duas pessoas, já é uma grande prova de sua existência. Se o amor que compreendemos não fosse sombra de algo mais, então nada significaria ao mundo o amor de Deus.
            Eis a questão que nos motiva: paixão e morte ou paixão e vida? Dizem – e com razão – que a maioria dos cristãos dá grande importância à Sexta-feira da Paixão (suas igrejas superlotam) e quase nenhuma ao Domingo da Ressurreição; celebramos a morte e nos esquecemos da vida que brota dos nossos túmulos vazios. Nossa esperança se esquece do terceiro dia.  Nossa paixão (amor verdadeiro) dificilmente vencerá a morte de nossos dilemas. Se eliminarmos a possibilidade da vitória cristã sobre a morte, estamos destruindo toda e qualquer razão para nossas crenças, nossa esperança ou mesmo nossa vida sentimental, os amores que pensamos possuir. Num mundo sem Deus, sem fé e esperança, paixão e morte farão parte de nossa existência dia e noite. Mas onde ainda lampeja a fé, a crença no verdadeiro Amor, Paixão será a lembrança primeira dum Deus apaixonado, capaz de descer até nós e nos oferecer sua maior riqueza, a fragilidade humana dum Cristo, caminho, verdade e vida. Vida em plenitude! Sua paixão foi essa: dar a vida. Em meio a toda sua dor ainda soube consolar e alertar: “Não choreis por mim, mas por vossos filhos”.
            Isso é que é paixão! Não as nossas declarações patéticas de amor eterno, que se apagam ao primeiro sopro das adversidades. Não o sangue agitado nas veias do poeta, que o animam a declamar juras eternas, “enquanto dure” a fragilidade de um amor terreno. Esse amor nunca será paixão. Pelo menos como tentamos entender ou definir a paixão de Deus por cada um de nós, células fugazes de um corpo divino, um universo sem fim, repleto de vida e plenitude, de amor e paz. Não choremos pelo Cristo morto! Choremos, sim, pelos filhos da indiferença, do desleixo, da superficialidade, do hedonismo, da insensibilidade, do comodismo, da vida sem outros prazeres do que sexo e drogas, morfina e adrenalina, nascer e morrer.... Os filhos de nossas paixões sem amor! E nada mais!

WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

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