CORPO A CORPO
A
Eucaristia é a maior riqueza da Igreja Católica. Como Festa litúrgica, a
celebramos solenemente na primeira quinta-feira após o domingo da Santíssima
Trindade, sob o nome latino de Corpus Christi. É uma referência à Quinta-Feira
Santa, quando Jesus instituiu a Eucaristia, pedindo a seus discípulos que
fizessem isso em sua memória. Quis assim perpetuar-se dentre nós dando-nos seu
corpo e sangue como alimento espiritual, uma forma de fazer-se um conosco,
somar-se à nossa a caminhada e nos dar força para melhor enfrentarmos os
embates cotidianos e as ameaças contra nossa fé. Nessa luta, podemos dizer que
Cristo faz um corpo a corpo contra o espírito maligno e nos fortalece o
espírito para vencer suas ciladas.
Oficialmente,
essa festa católica teve seu início em 1243, em Liège, Bélgica, quando a freira
Juliana Cornion teve visões de Cristo, que lhe pedia essa celebração. Vinte e
um anos depois, o Papa Urbano IV, através da bula papal “Transisturus de hoc
mundo” reconheceu a falta dessa Festa e promulgou-a como necessidade premente
do povo católico de reservar uma data para celebrar o mistério da Eucaristia, o
maior dos sacramentos divinos. Desde então, a data cresceu em importância no
calendário religioso, sendo hoje uma das celebrações mais populares e belas do
povo católico. É a Festa do Corpo de Deus!
Mas
como celebrá-la sem a compreensão de seu mistério? Jesus nos responde: “Este é
o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que dele comer. Eu sou
o pão vivo que desci do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão,
que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo” (Jo 6,50-51). Não
deixa espaço para dúvidas. Não há como questionar tão evidente e singela
afirmativa de Cristo. Ele é o Pão. Ele é o Mistério do Pai. Ele é a dádiva do
céu. O maná do nosso deserto... Sem seu corpo e sangue, nossa fé morre à
míngua!
Tão
evidente e substancial é esse mistério, que liturgicamente é o centro da fé
católica. Aqui não se analisa a dignidade do celebrante, a fé de quem repete as
palavras de Cristo no altar, o mérito da comunidade ou as desculpas teológicas
de muitas comunidades não católicas. “Este é meu corpo, este é meu sangue”. E
ponto final. Tão grandioso é esse mistério, que São João Maria Vianney, o Cura
D´Ars, um dia exclamou: “O padre tem o poder de fazer um pedacinho de pão e um
pouquinho de vinho tornar-se Corpo e Sangue de Deus. Isso é infinitamente maior
que o milagre da Criação”.
De
uma pastora evangélica ouvi um testemunho ao menos gratificante para nossa fé eucarística.
Dizia ela que, antes de qualquer pregação ou testemunho que fosse dar na sua
igreja, procurava discretamente uma igreja católica para comungar. Só através
da Eucaristia ela se sentia realmente “forte” para pregar a seu povo.
Incoerência dela? Absolutamente, não, pois que no seu íntimo ela compreendia o
valor de um tesouro que temos e que nem sempre compreendemos com clareza de
espírito. Triste são os católicos que não enxergam a profundidade desse
mistério com a clareza e simplicidade dessa nossa irmã evangélica. Pois que muitos católicos se empanturram com
hóstias e vinhos, mas poucos, pouquíssimos, são os que se alimentam com o corpo
e sangue, isto é, se comprometem com os mistérios eucarísticos e suas consequências.
Dentre
elas, a disponibilidade de dar a vida. Como o menino Tarcísio, a caminho das
catacumbas, que defendeu com a vida o mistério que carregava consigo: as
espécies consagradas do pão e do vinho. Como D. Oscar Romero, que, ao levantar
o corpo e sangue de Cristo em seu altar, recebeu no peito uma rajada de tiros e
deu sua vida num mistério de transubstanciação unido ao Cristo no altar. Ou
como qualquer cristão que, ao comungar, se sente outro Cristo no mundo... Nesse
corpo a corpo, o caipira um dia disse: comunhão é Deus e nóis, nóis com nóis
mesmo e tudo nóis com Deus. Amém!
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