O MENINO E O PAPA
Vocação
não se ganha, se persegue. Como a própria terminologia latina nos prova, a
palavra tem origem verbal, derivada de chamado, escolha (vocare). É, portanto,
algo que se busca a partir de um chamado. Foi isso o que nos provou o menino
Natan, ao sentir em sua alma um chamado divino e perseguir essa busca de forma
exemplar, contagiante. Uma busca que emocionou o próprio papa Francisco.
É
de todos conhecida a cena. O papamóvel transita pelas adjacências do Bairro
Glória, naquela manhã de sexta-feira, 26 de julho, levando consigo seu ilustre
passageiro. As ruas estão apinhadas, como estiveram em todos os trajetos do
nosso visitante. Vindos de Aparecida, chegam à cidade padrasto, mãe e o menino
Natan, ansiosos para um novo encontro com o papa, depois de vê-lo e ouvi-lo ao
longe, lá no santuário mariano. Natan, nove anos, não esconde sua ansiedade e
seu desejo de pedir pessoalmente ao papa uma bênção para a vocação, que surge
em seu peito e há dois anos lhe tira o sono, alimenta os sonhos, faz pulsar seu
coração. “Quero ser padre” – não esconde de ninguém. A ponto de, em casa, já
possuir um pequeno amontoado de peças litúrgicas e instrumentais religiosos.
“Quero ser padre”.
De
repente, numa esquina, percebem um aglomerado de pessoas. O papa vai passar por
ali. Aos trancos e barrancos, o menino e a família conseguem um lugar junto à
grade. Bem posicionados, aguardam o momento. Quando o papamóvel se aproximou, o
pai adotivo (um José em sua vida) deu a ordem: “Agora, vai!” Por um momento, os
seguranças tentaram impedir, mas quem impede uma bênção, quando esta já está
escrita no coração de Deus? Tarde demais, pois agora era o papa quem lhe abria
os braços, chamando-o para junto de si.
Envolto
em lágrimas, o menino vai despejando tudo naquele abraço carinhoso: “Santidade,
quero ser padre. Quero ser ministro de sua Igreja, pregar para o Povo de Deus”.
E o papa, igualmente emocionado, lhe enxuga as lágrimas, dizendo: “Vou rezar
por você, mas você também reze por mim. A partir de hoje sua vocação está
concretizada”. Diálogo simples, imprevisto, mas ungido e profético em sua
dimensão vocacional. Porque sabemos que a escolha vocacional vem de Deus, com a
unção de seu Espírito. Exige renúncia, determinação, mas principalmente oração.
Abençoada, então, pelo ministério de Pedro, ora, ora, quem vai impedi-la, senão
a inveja e a maledicência do mundo, do pecado? Por isso, oração constante,
orações mútuas, pede o papa.
Oportuna
essa reflexão num mês vocacional. Ao perguntarem ao menino Natan, que vestia
uma camiseta com a frase “Deus faz, Deus junta”, o porquê dessa obsessão
sacerdotal, respondeu com naturalidade infantil, mas profundamente
comprometedora: “Admiro muito tudo o que o sacerdote transmite, gosto de ir à
missa (diariamente) e da mensagem de amor que a Igreja possui”. Oxalá todos os sacerdotes assim pensassem a
própria vocação e reavaliassem, diariamente, através dos mistérios que
proclamam no altar, o peso de sua função num mundo conturbado e sedento do amor
que Cristo nos ensinou.
“Quero
ser padre”, diz o menino. Se vai mesmo conseguir ou não dependerá unicamente do
fervor da Igreja orante. Porque, já lhe disse o papa aos pés do ouvido: sua
vocação está concretizada. Como? No coração de Deus. Também no coração do povo
brasileiro, que testemunhou tão bela declaração de amor de uma criança pela
Igreja de Cristo. A partir de agora, devemos rezar, rezar, rezar, por Natan e
por todos os vocacionados ao sacerdócio. Porque a semente foi plantada. Só com
a oração tornar-se-á planta adulta, frutuosa, como esperamos e desejamos. Só
assim um dia teremos o padre Natan de Melo Brito Pires.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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