domingo, 11 de agosto de 2013

CONFISSÃO PÚBLICA

CONFISSÃO PÚBLICA
 Um dos simbolismos dos novos ares que sopram sobre a Igreja, com o pontificado de Francisco, foram os confessionários em forma de barca, distribuídos estrategicamente na Quinta da Boa Vista, no Rio, durante a JMJ. Ali a própria Igreja se dizia pecadora. Uma confissão pública. Renovava e dizia ao mundo ser preciso tirar a poeira de um sacramento um tanto quanto esquecido na prática da fé católica.
            Não há como negar que esse ato de penitência e reconciliação está em decadência entre nós. Diferentemente do ato eucarístico, cujas filas aumentam dia-a-dia, a confissão sequer fila possui. No entanto, ambos estão intimamente relacionados, ou seja: só existirá verdadeira comunhão se a reconciliação vier por primeiro. Isso em todos os campos do relacionamento humano. Imaginem com Deus! Então vem a pergunta fatal: por que o católico pouco se confessa?
            Levei essa questão a vários sacerdotes. Quase todos foram unânimes: falta motivação e hábito. Daí à incoerência de uma vida sacramental atribulada e vazia de sentido a distância é mínima. O perigo, maior. Porque confessar-se e dizer-se pecador é um ato de humildade diante da misericórdia divina. É princípio de santificação. Vocação de todos os que aspiram ao amor do Pai. Nesse aspecto, nenhum padre, bispo ou sequer o papa podem negar o direito de reconciliação e absolvição de qualquer indivíduo. O hábito e a motivação procedem do ministério sacerdotal. É função da Igreja facilitar a prática cristã e disponibilizar seus sacramentos. Perguntei também a vários católicos. Uma das respostas mais comum: não encontro padres disponíveis. A segunda: não tenho tempo. A terceira: falta costume. Como se vê, há aqui uma clara desmotivação, que começa dentro da própria hierarquia religiosa – infelizmente – por não facilitar ou incentivar o povo a essa prática. Ainda há padres que só atendem no expediente paroquial; não entendem as questões profissionais e familiares que cerceiam a vida dos fiéis. Confissões antes da Missa, nem pensar. Por isso sequer confessionários existem mais; viraram peças de museus. Tudo agora só com hora marcada, conforme a agenda, a disposição, a vontade, o ânimo... do padre; nunca do penitente...
            Francisco chegou com tudo. O ato de ouvir aqueles jovens em confissão não foi mero simbolismo. Foi também uma confissão pública de perdão. Aos sacerdotes questionou objetivamente: “Procuramos que o nosso trabalho e o de nossos presbíteros seja mais pastoral que administrativo? Quem é o principal beneficiário do trabalho eclesial, a Igreja como organização ou o Povo de Deus na sua totalidade?” Apontou a ferida de muitos planos pastorais que bem conhecemos. Projetos voltados apenas e tão somente para a recuperação do patrimônio material, sem foco com o grande patrimônio razão de ser da Igreja, seu rebanho. Então Francisco faz a pergunta sem resposta pronta: “Promovemos espaços e ocasiões para manifestar a misericórdia de Deus?”
            A resposta, quem nos dá, são aqueles cinco jovens ouvidos em confissão pelo santo padre. Tinham em comum a alegria da reconciliação. “Os olhos do papa, o olhar dele na minha cara, tão direto, tão puro, tão simples... Eu ficava como se não tivesse segredos para ele”, disse Claudia. “Eu levo uma lembrança onde ele pôde olhar nos meus olhos e falar ‘Caminhe, que a caminhada com Cristo é ótima’, falou Marco Antonio. “É uma paz muito grande, uma energia muito forte”, testemunhou Wellington. “Esses cinco minutos com ele, pra mim, foram magníficos”, afirmou Estefani. E, por último, falou outro Marco Antonio, do Brasil: “Eu vou recordar pra sempre as palavras que ele me disse ao final da confissão. Em espanhol, ele disse: ‘eu lhe darei o perdão de todos os pecados de sua vida’...
            Lembremo-nos, sempre: quem nos ouve em confissão não é um simples sacerdote, bispo ou papa, mas o Cristo em pessoa.

WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

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