CONFISSÃO PÚBLICA
Um dos simbolismos dos novos ares que sopram
sobre a Igreja, com o pontificado de Francisco, foram os confessionários em
forma de barca, distribuídos estrategicamente na Quinta da Boa Vista, no Rio,
durante a JMJ. Ali a própria Igreja se dizia pecadora. Uma confissão pública.
Renovava e dizia ao mundo ser preciso tirar a poeira de um sacramento um tanto
quanto esquecido na prática da fé católica.
Não
há como negar que esse ato de penitência e reconciliação está em decadência
entre nós. Diferentemente do ato eucarístico, cujas filas aumentam dia-a-dia, a
confissão sequer fila possui. No entanto, ambos estão intimamente relacionados,
ou seja: só existirá verdadeira comunhão se a reconciliação vier por primeiro.
Isso em todos os campos do relacionamento humano. Imaginem com Deus! Então vem
a pergunta fatal: por que o católico pouco se confessa?
Levei
essa questão a vários sacerdotes. Quase todos foram unânimes: falta motivação e
hábito. Daí à incoerência de uma vida sacramental atribulada e vazia de sentido
a distância é mínima. O perigo, maior. Porque confessar-se e dizer-se pecador é
um ato de humildade diante da misericórdia divina. É princípio de santificação.
Vocação de todos os que aspiram ao amor do Pai. Nesse aspecto, nenhum padre, bispo
ou sequer o papa podem negar o direito de reconciliação e absolvição de
qualquer indivíduo. O hábito e a motivação procedem do ministério sacerdotal. É
função da Igreja facilitar a prática cristã e disponibilizar seus sacramentos. Perguntei
também a vários católicos. Uma das respostas mais comum: não encontro padres
disponíveis. A segunda: não tenho tempo. A terceira: falta costume. Como se vê,
há aqui uma clara desmotivação, que começa dentro da própria hierarquia
religiosa – infelizmente – por não facilitar ou incentivar o povo a essa
prática. Ainda há padres que só atendem no expediente paroquial; não entendem
as questões profissionais e familiares que cerceiam a vida dos fiéis.
Confissões antes da Missa, nem pensar. Por isso sequer confessionários existem
mais; viraram peças de museus. Tudo agora só com hora marcada, conforme a
agenda, a disposição, a vontade, o ânimo... do padre; nunca do penitente...
Francisco
chegou com tudo. O ato de ouvir aqueles jovens em confissão não foi mero
simbolismo. Foi também uma confissão pública de perdão. Aos sacerdotes
questionou objetivamente: “Procuramos que o nosso trabalho e o de nossos
presbíteros seja mais pastoral que administrativo? Quem é o principal
beneficiário do trabalho eclesial, a Igreja como organização ou o Povo de Deus
na sua totalidade?” Apontou a ferida de muitos planos pastorais que bem
conhecemos. Projetos voltados apenas e tão somente para a recuperação do
patrimônio material, sem foco com o grande patrimônio razão de ser da Igreja,
seu rebanho. Então Francisco faz a pergunta sem resposta pronta: “Promovemos
espaços e ocasiões para manifestar a misericórdia de Deus?”
A
resposta, quem nos dá, são aqueles cinco jovens ouvidos em confissão pelo santo
padre. Tinham em comum a alegria da reconciliação. “Os olhos do papa, o olhar
dele na minha cara, tão direto, tão puro, tão simples... Eu ficava como se não
tivesse segredos para ele”, disse Claudia. “Eu levo uma lembrança onde ele pôde
olhar nos meus olhos e falar ‘Caminhe, que a caminhada com Cristo é ótima’,
falou Marco Antonio. “É uma paz muito grande, uma energia muito forte”,
testemunhou Wellington. “Esses cinco minutos com ele, pra mim, foram
magníficos”, afirmou Estefani. E, por último, falou outro Marco Antonio, do
Brasil: “Eu vou recordar pra sempre as palavras que ele me disse ao final da
confissão. Em espanhol, ele disse: ‘eu lhe darei o perdão de todos os pecados
de sua vida’...
Lembremo-nos,
sempre: quem nos ouve em confissão não é um simples sacerdote, bispo ou papa,
mas o Cristo em pessoa.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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