quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O REI DOS REIS

O REI DOS REIS
            O cinema apenas engatinhava. Mudo e em preto e branco, seus roteiros ainda oscilavam entre a genialidade das películas de Charles Chaplin e alguns poucos roteiros romanescos e épicos de algum diretor mais ousado. Dentre eles Cecil De Mill´es, que trouxe para as poucas telas ainda disponíveis a primeira versão cinematográfica da vida de Jesus, “O Rei dos Reis” (1927).
            Diz a história que a visão do Cristo, mesmo que mudo e em preto e branco, causou verdadeira corrida de público aos cinemas e uma catarse de manifestações religiosas jamais vistas em salas de espetáculos. Muitas dessas transformaram-se em verdadeiros templos de fé, com a sala repleta de devotos ajoelhados e em fervorosa oração cada vez que Jesus aparecia na tela. Em Portugal, onde a película estreou em 1928, o antigo Cinema Condes tornou-se foco de romaria durante meses, para onde levas de crentes se dirigiam na expectativa de “vivenciar” uma aparição do próprio Cristo.
            Com o advento de novas tecnologias, em especial som e cores, o remake de maior sucesso só voltou às telas em 1961, pelas mãos do diretor Nicholas Ray. Película de 168 minutos, que manteve o título original (King of Kings) e bateu recordes de bilheteria, sendo superado apenas pelo épico Os Dez Mandamentos. A oportunidade de ver e sentir com mais realismo o drama de vida de seu líder espiritual, bem como ouvir seus ensinamentos dentro de um contexto narrativo de penetração e compreensão maiores, fez dos filmes bíblicos o maior filão da indústria cinematográfica ainda nascente.
            Ben hur e Quo Vadis foram dois outros títulos de sucesso, baseados nos romances homônimos que melhor narraram o contexto da vida de Jesus, dentro de uma visão histórica, porém romanceada. Mas a mente tendenciosa do gênero humano logo constrói desvios. Foram os casos de Jesus Cristo Superstar (1973 – Norman Jewison) e A Ultima Tentação de Cristo (2004 – Martin Scorsese), que acrescentaram elementos estranhos à verdadeira história. No primeiro, focado sob o ponto de vista de Judas, o traidor, até metralhadoras são vistas nas mãos dos soldados romanos. No segundo, um Cristo mais que humano, em sua agonia, é capaz de sonhar com Madalena como sua eventual concubina e esposa que lhe dá filhos. Nada contra os voos livres da imaginação de autores competentes naquilo que bem fazem, não fosse o Cristo síntese das maiores aspirações e esperanças humanas.
            Seu aspecto histórico mais sensível à verdade bíblica foi rodado em 1999, com o título de Maria, mãe de Jesus (Kevin Connor). Narrava a vida de Cristo sob o ponto de vista da mãe. Daí sua pureza e lances de maiores sensibilidades. A vida de Cristo no entender da própria mãe! Porém, das centenas de títulos já produzidos e de muitos outros que virão, nada ainda se compara ao realismo apresentado por Mel Gibson, em A Paixão de Cristo (2004).  O realismo pungente de sua paixão e morte, o tom político das conjecturas da época, a brutalidade sanguinolenta de um império sob seus súditos, a sede de vingança, bem como a insaciável luta humana pela manutenção dos poderes a ferro e fogo, emergem da tela com cruenta naturalidade. Não há como ficar indiferente às nossas injustiças cotidianas depois desse filme.
            Seja qual seu ponto de vista ou sua profissão de fé, a vida de Cristo continua a influenciar culturas e civilizações ao longo dos séculos. O Rei dos Reis ainda reina. Não em vão, diz-nos a Bíblia que seu reinado não terá fim. Aquele que ironicamente um dia foi coroado com espinhos, que recebeu o título de Rei dos Judeus, do alto de sua cruz refaz o filme da vida dos que reconhecem sua glória e realeza. “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reinado” - continua a suplicar o pecador arrependido, eu, você...

WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

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