O REI DOS REIS
O
cinema apenas engatinhava. Mudo e em preto e branco, seus roteiros ainda
oscilavam entre a genialidade das películas de Charles Chaplin e alguns poucos
roteiros romanescos e épicos de algum diretor mais ousado. Dentre eles Cecil De
Mill´es, que trouxe para as poucas telas ainda disponíveis a primeira versão
cinematográfica da vida de Jesus, “O Rei dos Reis” (1927).
Diz
a história que a visão do Cristo, mesmo que mudo e em preto e branco, causou
verdadeira corrida de público aos cinemas e uma catarse de manifestações
religiosas jamais vistas em salas de espetáculos. Muitas dessas transformaram-se
em verdadeiros templos de fé, com a sala repleta de devotos ajoelhados e em
fervorosa oração cada vez que Jesus aparecia na tela. Em Portugal, onde a
película estreou em 1928, o antigo Cinema Condes tornou-se foco de romaria
durante meses, para onde levas de crentes se dirigiam na expectativa de
“vivenciar” uma aparição do próprio Cristo.
Com
o advento de novas tecnologias, em especial som e cores, o remake de maior
sucesso só voltou às telas em 1961, pelas mãos do diretor Nicholas Ray.
Película de 168 minutos, que manteve o título original (King of Kings) e bateu
recordes de bilheteria, sendo superado apenas pelo épico Os Dez Mandamentos. A
oportunidade de ver e sentir com mais realismo o drama de vida de seu líder
espiritual, bem como ouvir seus ensinamentos dentro de um contexto narrativo de
penetração e compreensão maiores, fez dos filmes bíblicos o maior filão da
indústria cinematográfica ainda nascente.
Ben
hur e Quo Vadis foram dois outros títulos de sucesso, baseados nos romances
homônimos que melhor narraram o contexto da vida de Jesus, dentro de uma visão
histórica, porém romanceada. Mas a mente tendenciosa do gênero humano logo
constrói desvios. Foram os casos de Jesus Cristo Superstar (1973 – Norman
Jewison) e A Ultima Tentação de Cristo (2004 – Martin Scorsese), que
acrescentaram elementos estranhos à verdadeira história. No primeiro, focado
sob o ponto de vista de Judas, o traidor, até metralhadoras são vistas nas mãos
dos soldados romanos. No segundo, um Cristo mais que humano, em sua agonia, é
capaz de sonhar com Madalena como sua eventual concubina e esposa que lhe dá
filhos. Nada contra os voos livres da imaginação de autores competentes naquilo
que bem fazem, não fosse o Cristo síntese das maiores aspirações e esperanças
humanas.
Seu
aspecto histórico mais sensível à verdade bíblica foi rodado em 1999, com o
título de Maria, mãe de Jesus (Kevin Connor). Narrava a vida de Cristo sob o
ponto de vista da mãe. Daí sua pureza e lances de maiores sensibilidades. A
vida de Cristo no entender da própria mãe! Porém, das centenas de títulos já
produzidos e de muitos outros que virão, nada ainda se compara ao realismo
apresentado por Mel Gibson, em
A Paixão de Cristo (2004). O realismo pungente de sua paixão e morte, o
tom político das conjecturas da época, a brutalidade sanguinolenta de um
império sob seus súditos, a sede de vingança, bem como a insaciável luta humana
pela manutenção dos poderes a ferro e fogo, emergem da tela com cruenta
naturalidade. Não há como ficar indiferente às nossas injustiças cotidianas
depois desse filme.
Seja
qual seu ponto de vista ou sua profissão de fé, a vida de Cristo continua a
influenciar culturas e civilizações ao longo dos séculos. O Rei dos Reis ainda
reina. Não em vão, diz-nos a Bíblia que seu reinado não terá fim. Aquele que
ironicamente um dia foi coroado com espinhos, que recebeu o título de Rei dos
Judeus, do alto de sua cruz refaz o filme da vida dos que reconhecem sua glória
e realeza. “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reinado” - continua a
suplicar o pecador arrependido, eu, você...
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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