domingo, 9 de fevereiro de 2014

O JOGO DO PODER

O JOGO DO PODER
            Uma rápida análise das páginas da história aponta sempre uma origem para todos os conflitos, guerras e entraves da humanidade: o poder. Não precisamos ir muito longe nessa história; basta-nos uma olhadela nos fatos que nos circundam, nas crises que ferem nosso momento atual, nosso dia-a-dia. Tudo que aí está, como sinal de alerta para um mundo em crise, tem origem no jogo do poder, na capciosa sede do mando e desmando, do sentir-se dono das rédeas, da condução dos povos, da manutenção política ou dos regimes que alimentam essa vaidade humana. Mas o poder emana de Deus, dirá resignadamente o bom cristão.
            Aqui é que são elas. Diferenciar o poder puro e simples de um mandato divino, abençoado e por isso santo é competência do povo que elege seus mandatários. Cada povo tem o governo que bem merece, diz a sabedoria popular. É exatamente essa que falta ao povo, quando distante de seus princípios básicos de unidade com os ensinamentos e a vontade de Deus. Quando nos afastamos dos desígnios de nossa fé, permitimos que o mal e seus ascetas comandem nossas vidas, conduzam nossa história. Falta-nos o princípio da verdadeira sabedoria, aquela capaz de tornar santo e abençoado o dom do poder, o sagrado múnus da condução dos povos sob as graças divinas.
            Paulo, quando falava aos Coríntios sobre o poder que lhe foi dado de revelar ao povo os mistérios de Deus e sua vontade, não se ufanou por isso. Ao contrário, colocou-se humildemente diante do povo, revelando sua fragilidade e pequenez e falando da própria insegurança. Mas foi gigante ao afirmar que suas palavras tinham não a sabedoria dos políticos ou a persuasão dos malandros, mas a simplicidade e pureza da Sabedoria do Espírito. E completou: (Isso tudo) “para que a vossa fé se baseasse no poder de Deus e não na sabedoria dos homens” (1Cor 2,5). Não nos limitemos à esfera dos poderes governamentais. Todo ser humano tem poderes. Somos alimentados e até motivados pela graça de descobrir que também somos soberanos, temos poderes, gerenciamos nossas vontades, conduzimos nossa existência sob o poder e a graça da própria vida que nos foi dada. Daí a verdade: todo poder vem de Deus!
             Sim, eu posso, você pode! Essa é a descoberta do homem livre. Não importa o regime que nos governa, o negativismo que grassa nos governos corruptos ou opressores, a decepcionante justiça humana sempre tendenciosa ou facciosa, o mando e desmando de oligarquias institucionalizadas, que tudo fazem para manutenção de seus poderes, a religião atrelada ou compromissada com os interesses mundanos, corporativos, partidários... Tudo longe da Sabedoria divina, da fonte genuína do poder verdadeiro. Não importa, pois!
            A certeza que nos anima é saber que todo poder está em jogo. Momentaneamente, poderá dar as cartas. Temporariamente, ditarão normas, gritarão ordens, mas nenhum regime humano prevalecerá sem a unção dos céus. Também no campo pessoal, nenhuma injustiça permanece para sempre, quando nossa fé nos ensina que só a verdade prevalecerá. Essa, sim, é imutável. Essa sim conduz a história humana para os campos serenos e certeiros de uma vitória livre das tiranias humanas. “Tudo posso naquele que me dá forças”. A confissão de Paulo é nosso alento. Com a força da fé genuína e esperançosa, somos fortes, imbatíveis. Quem assim orienta sua vida, não importa o governo, o partido, o regime, a ditadura ou democracia, o socialismo ou o capitalismo, esquerda ou direita, principado ou potestade... Tudo posso! Esse é o jogo da verdadeira vida, o jogo da verdade cristã.
            “Em verdade, as autoridades inspiram temor, não porém a quem pratica o bem, e sim a quem faz o mal! Queres não ter o que temer a autoridade? Faze o bem e terás o seu louvor” (Rom 13, 3).

WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

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