O JOGO DO PODER
Uma
rápida análise das páginas da história aponta sempre uma origem para todos os
conflitos, guerras e entraves da humanidade: o poder. Não precisamos ir muito
longe nessa história; basta-nos uma olhadela nos fatos que nos circundam, nas
crises que ferem nosso momento atual, nosso dia-a-dia. Tudo que aí está, como
sinal de alerta para um mundo em crise, tem origem no jogo do poder, na
capciosa sede do mando e desmando, do sentir-se dono das rédeas, da condução
dos povos, da manutenção política ou dos regimes que alimentam essa vaidade
humana. Mas o poder emana de Deus, dirá resignadamente o bom cristão.
Aqui
é que são elas. Diferenciar o poder puro e simples de um mandato divino,
abençoado e por isso santo é competência do povo que elege seus mandatários. Cada
povo tem o governo que bem merece, diz a sabedoria popular. É exatamente essa
que falta ao povo, quando distante de seus princípios básicos de unidade com os
ensinamentos e a vontade de Deus. Quando nos afastamos dos desígnios de nossa fé,
permitimos que o mal e seus ascetas comandem nossas vidas, conduzam nossa história.
Falta-nos o princípio da verdadeira sabedoria, aquela capaz de tornar santo e
abençoado o dom do poder, o sagrado múnus da condução dos povos sob as graças
divinas.
Paulo,
quando falava aos Coríntios sobre o poder que lhe foi dado de revelar ao povo
os mistérios de Deus e sua vontade, não se ufanou por isso. Ao contrário,
colocou-se humildemente diante do povo, revelando sua fragilidade e pequenez e
falando da própria insegurança. Mas foi gigante ao afirmar que suas palavras
tinham não a sabedoria dos políticos ou a persuasão dos malandros, mas a
simplicidade e pureza da Sabedoria do Espírito. E completou: (Isso tudo) “para
que a vossa fé se baseasse no poder de Deus e não na sabedoria dos homens” (1Cor
2,5). Não nos limitemos à esfera dos poderes governamentais. Todo ser humano
tem poderes. Somos alimentados e até motivados pela graça de descobrir que também
somos soberanos, temos poderes, gerenciamos nossas vontades, conduzimos nossa
existência sob o poder e a graça da própria vida que nos foi dada. Daí a
verdade: todo poder vem de Deus!
Sim, eu posso, você pode! Essa é a descoberta
do homem livre. Não importa o regime que nos governa, o negativismo que grassa
nos governos corruptos ou opressores, a decepcionante justiça humana sempre
tendenciosa ou facciosa, o mando e desmando de oligarquias institucionalizadas,
que tudo fazem para manutenção de seus poderes, a religião atrelada ou
compromissada com os interesses mundanos, corporativos, partidários... Tudo
longe da Sabedoria divina, da fonte genuína do poder verdadeiro. Não importa,
pois!
A
certeza que nos anima é saber que todo poder está em jogo. Momentaneamente ,
poderá dar as cartas. Temporariamente, ditarão normas, gritarão ordens, mas
nenhum regime humano prevalecerá sem a unção dos céus. Também no campo pessoal,
nenhuma injustiça permanece para sempre, quando nossa fé nos ensina que só a
verdade prevalecerá. Essa, sim, é imutável. Essa sim conduz a história humana
para os campos serenos e certeiros de uma vitória livre das tiranias humanas. “Tudo
posso naquele que me dá forças”. A confissão de Paulo é nosso alento. Com a
força da fé genuína e esperançosa, somos fortes, imbatíveis. Quem assim orienta
sua vida, não importa o governo, o partido, o regime, a ditadura ou democracia,
o socialismo ou o capitalismo, esquerda ou direita, principado ou potestade... Tudo
posso! Esse é o jogo da verdadeira vida, o jogo da verdade cristã.
“Em
verdade, as autoridades inspiram temor, não porém a quem pratica o bem, e sim a
quem faz o mal! Queres não ter o que temer a autoridade? Faze o bem e terás o
seu louvor” (Rom 13, 3).
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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