OBEDIÊNCIA E RESPEITO
Uma cena quase
despercebida marcou o ultimo Consistório – cerimônia que consagra novos
cardeais - dando novo colorido à estrutura de poder alinhada na Igreja
Católica. Além do quase ineditismo da presença de dois papas, a cerimônia foi
marcada por um gesto de humildade simples, porém significativo. Quando o papa
emérito chegou ao recinto, o papa Francisco foi ao seu encontro e aquele, antes
de lhe estender a mão, tirou de sua cabeça o solidéu que cobria sua vasta
cabeleira branca, em sinal de respeito e obediência.
Foi
aplaudido de pé. Seu gesto como que dizia: sou seu servo, estou às suas ordens,
respeito sua cátedra – que também foi minha – submeto-me, presto-lhe obediência
e respeito. Na estrutura do mundo ainda prevalece o popular: “Quem já foi rei,
nunca perde a majestade”... Na estrutura da Igreja o poder é sinônimo de
serviço. Bela e santa essa hierarquia, cujos poderes não passam de “uma
responsabilidade a mais”, como disse dom Orani Tempesta, o arcebispo brasileiro
que ali estava para ser elevado ao posto de cardeal.
Esse
é o grande diferencial da estrutura de poder que governa o catolicismo. Não se
trata de poderes temporais, de mando ou desmando, de administração de bens ou
riquezas, mas uma hierarquia que visa a condução espiritual do povo de Deus. A
mesma ordem estabelecida no deserto, quando Moisés e seus auxiliares levaram o
povo até a Terra Prometida. A mesma hierarquia dos Reis e Juízes no Antigo
Testamento. A mesma estrutura estabelecida pelos Profetas, que, com palavras de
ordem e admoestação, souberam orientar esse povo. Sem uma voz de comando, sem
uma estrutura mínima de ordem e objetividade, não chegaríamos a lugar algum.
Sem respeito e obediência, pior ainda.
Por
isso, antes de criticar a estrutura hierárquica do catolicismo, é preciso
entendê-la e contemplar as benesses dessa organização sem equivalência no
mundo. Não importa o título: padre, bispo, arcebispo, cardeal ou papa. Todos
são servos. Todos se submetem ao Cristo, o dono da casa. “Moisés foi fiel em
toda a sua casa, como servo e testemunha das palavras de Deus. Cristo, porém, o
foi como Filho à frente de sua própria casa. E sua casa somos nós; contanto que
permaneçamos firmes até o fim, professando intrepidamente a nossa fé e ufanos
na esperança que nos pertence” (Heb 3, 5-6). Essa é nossa Igreja! Esse é o povo
de Deus em busca da Canaã Eterna!
O
gesto de humildade do papa Bento 16, diante do papa Francisco não foi um mero
rito de etiquetas formalizadas. Diz muito ao mundo de hoje, onde o poder e a
glória ferem e sufocam muitos povos, quando deveriam levá-los à liberdade
plena. Dentro da Igreja, a meta se amplia, visando antes o bem comum. Mas exige
obediência. Por isso a cátedra de Pedro, a exclusividade de uma voz de comando
santificada e inspirada pelos poderes que dela emanam, não pode ser dividida,
fatiada em porções de opiniões divergentes, sectárias. Dizemos acreditar numa
Igreja Una e Santa. É isso que buscamos na figura do Papa, a unidade, a
santidade. Por isso exigimos respeito. Respeito que gera confiança. Confiança
que gera fidelidade.
Assim
entendemos o pontificado de Pedro. Assim também nos submetemos à doutrina de
Cristo e de sua Igreja, que, desde seus primórdios, faz da figura do Santo
Padre um sinal de respeito e obediência às suas palavras. “E dado que temos um
Sumo Sacerdote estabelecido sobre a casa de Deus, acheguemo-nos a ele com
coração sincero, com plena firmeza da fé, o mais íntimo da alma isento de toda
mácula de pecado e o corpo lavado com a água purificadora (do batismo). (Heb 10,
21-22). Porque de falsos líderes e pastores sem legitimidade já estamos
cansados...
WAGNER PEDRO
MENEZES wagner@meac.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário