DA GRUTA AO TEMPLO
Edir
Macedo chega ao topo de seus sonhos megalomaníacos. Inaugura enfim um templo
maior e mais sofisticado do que aquele construído por Salomão e destruído pelos
babilônios há 586 anos antes de Cristo. Maior não só em termos da capacidade de
acomodação das pessoas, mas em ostentação, luxo e modernidade, com cifras que
fazem inveja a qualquer mega investidor do mundo financeiro. Mais sofisticado
porque dele se pretende vender até a poeira que restou de sua construção. Atrás
desse sonho travestido de fé embarcam milhares, como se a ostentação fosse um
carisma cristão.
É
preciso dar nome às ovelhas desgarradas... A fé cristã nasceu numa estrebaria,
fora do templo, longe de qualquer conforto ou regalia mínima. Os milhões
milagrosamente somados e aplicados numa construção recorde em todos os sentidos
não diferem, em nada, da finalidade única atribuída às pirâmides do Egito, que
era servir de túmulo aos grandes faraós da época. Observe-se que o templo de
Edir já possui algumas câmaras mortuárias, onde (não dizem, mas a lógica diz)
serão sepultados os restos mortais da família Macedo. Então se terá cumprida
uma odisséia sem precedentes na história do cristianismo, apesar da contradição
doutrinaria presente em toda e qualquer ação dita evangelizadora desta seita
genuinamente brasileira (e botem genuína nisso!). Nada como o tempo, diante dos
templos da loucura humana. O primeiro deles ruiu pelas mãos inimigas. O
segundo, reconstruído por Herodes, foi chamado por Cristo como covil de ladrões
e dele não sobrou pedra sobre pedra. O terceiro...
O
menino que um dia ensinou no templo, entre doutores e fiéis à lei, mostrou-lhes
claramente uma nova maneira de se relacionar com Deus. “Não quero sacrifícios,
mas misericórdia”, diria se referindo aos rituais vazios de uma fé sem ação.
“Destruirei esse templo e o reconstruirei em três dias”, afirmou, mostrando sua
preferência ao templo maior, a vida, que iria restaurar com sua morte e
ressurreição. Mais que santuários vazios de significado, é preciso reconhecer a
presença de Deus no mundo, sua casa por excelência e, principalmente, no maior
de todos os templos, o mais perfeito, rico, suntuoso e espetacular, aquele que
é imagem e semelhança divina, o templo de Deus que somos... Este é o Templo dos
templos! “Mas vem a hora, e já chegou,
em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e
são esses adoradores que o Pai deseja” (Jo 4,23). Deus não se adorará num
monte, nem num templo específico, mas na figura do irmão ao nosso lado, o pecador,
o empobrecido, o injustiçado. Adorado e venerado como aquela criança em Belém,
que os templos do orgulho humano não souberam acolher, não viram nascer em toda
simplicidade e generosidade divinas.
Ora,
o templo de Salomão da modernidade não se restringe a uma mera construção de 74
mil m2, ao custo de R$ 680 milhões. Isso é pouco para o Criador de tudo. A
ousadia de um grupo de fanáticos religiosos, liderado por um auto proclamado
bispo cristão, que agora deixa barba evocando antigos profetas, usa quipá e
mantos judaicos e adorna seu templo com gigantescos candelabros à maneira dos
israelitas, deixando de lado a cruz cristã, é no mínimo espetacular. Nada
contra nossos irmãos judeus, mas onde a coerência da fé cristã? Ou o reino
universal do Edir voltou ao passado de vez, como sugere seu monumento de fé,
sem deixar isso claro aos seus seguidores fascinados e atordoados pela
prosperidade, a única verdade que conseguiram demonstrar até aqui. Prosperidade
não é tudo. “Porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não
depende de suas riquezas” (Lc 12,15). Insensato! – lhe dirá Deus. “Assim acontece ao homem que entesoura para si
mesmo e não é rico para Deus” (Lc 12, 21); porque o velho templo de Salomão
perdeu seu significado tão logo Jesus nos restituiu a dignidade de filhos e
filhas de Deus.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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