ADÃO E EVA E A VARINHA MÁGICA
Volta
e meia Ciência e Religião se engalfinham publicamente na defesa de suas teses,
teorias e crenças. A Ciência exige o preto no branco e a Religião um fato que
não se explica a não ser como mistério divino. O fato é que existimos, mesmo
que todas as teorias humanas nunca cheguem a um consenso que explique por A + B
a razão ou a maneira de como evoluímos até aqui. “Deus não agiu como um mago,
usando de uma varinha mágica para fazer tudo”, declarou recentemente o papa
Francisco, ao abordar o tema diante de 80 cientistas membros da Academia de
Ciências do Vaticano.
O
assunto é retomado num momento de grandes discussões que abordam mais uma vez a
teoria darwiniana (o homem evoluiu do macaco ou animais similares) e a também
teoria do Big Bang (o universo surgiu de uma gigantesca explosão, cuja
distensão ainda acontece). Teorias, o nome já diz. Mas vários outros papas,
dentre eles João Paulo II, também abordaram esse assunto, dando a entender ao
mundo que a Igreja não descarta de todo as divagações científicas sobre o mundo
e nossa origem. Desta feita, Francisco foi mais objetivo em sua posição: “Deus
deu autonomia aos seres do Universo, ao mesmo tempo em que lhes assegurou sua
presença contínua”. O homem, em todo processo criativo, sempre esteve ao lado
de Deus como contribuinte e co-autor de sua Obra. “Ele os criou e deixou que se
desenvolvessem de acordo com as leis internas que estabeleceu para cada um
deles” – disse o papa. E acrescentou: “A evolução, na natureza, não contrasta
com a noção de criação, porque a evolução pressupõe a criação dos seres que
passam a evoluir”. Em outras palavras: um dia nós fomos criados para que
pudéssemos crescer em sabedoria e graça diante do Pai...
Como
ficam Adão e Eva? Será que ainda existem pessoas no mundo que defendam com
unhas e dentes não só a beleza poética da maravilhosa fábula da Criação? Quem
ainda faz uma leitura textual do Genesis, quando “no princípio” tudo era Deus,
ainda não evoluiu para o mistério da segunda criação, quando “no princípio era
o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1,1) Entre uma
criação e outra, evoluímos. O novo Adão se tornou a luz dos homens “e a luz
resplandece nas trevas e as trevas não a compreenderam” (Jo 1,5). É preciso,
então, que o novo Adão reafirme categoricamente: “Eu sou a luz do mundo”...
Essa
é a única certeza advinda da fé cristã. Se Adão e Eva existiram ou não, se
foram um marco na etapa do surgimento do “homo sapiens” – aquele que se
descobriu rei entre todas as criaturas que povoavam seu mundinho de
encantamentos e aprendizados constantes – ou se foram simples figuras de
metáfora de um autor inspirado por sua fé, não vem ao caso agora. As lições da
criação continuam como pano de fundo de uma dramaturgia humana cujo primeiro
ato foi descobrir um Ser superior, um Criador, um Pai a lhe conduzir desde os
primeiros passos. Que diferença faz encontrar num exame de DNA alguns
cromossomos similares aos de outros seres vivos? Sete dias ou setenta vezes
sete milênios explicam o porquê do Universo? Faz alguma diferença em sua
vida? Sabemos que não.
Na verdade, o que a Ciência tanto busca é
explicações que o pensamento humano ainda não alcançou e nunca alcançará longe
dos mistérios da fé. “Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo
não o conheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (Jo 1,10-11).
Nessa clara alusão da força divina e criadora do Messias cristão, encarnada e
realinhada nas revelações de Cristo Jesus, está a resposta que Ciência e
Religião tanto buscam ou apregoam. Nenhum passe de mágica, nenhum condão
milagroso nos fará compreender os mistérios da Criação, sem a consciência de
nossa insignificância. Para a Ciência, fica o óbvio: somos pó e ao pó
voltaremos. Mas para o crente a certeza é melhor: Do Pai viemos, ao Pai
voltaremos.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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