domingo, 2 de novembro de 2014

ADÃO E EVA E A VARINHA MÁGICA

ADÃO E EVA E A VARINHA MÁGICA
            Volta e meia Ciência e Religião se engalfinham publicamente na defesa de suas teses, teorias e crenças. A Ciência exige o preto no branco e a Religião um fato que não se explica a não ser como mistério divino. O fato é que existimos, mesmo que todas as teorias humanas nunca cheguem a um consenso que explique por A + B a razão ou a maneira de como evoluímos até aqui. “Deus não agiu como um mago, usando de uma varinha mágica para fazer tudo”, declarou recentemente o papa Francisco, ao abordar o tema diante de 80 cientistas membros da Academia de Ciências do Vaticano.
            O assunto é retomado num momento de grandes discussões que abordam mais uma vez a teoria darwiniana (o homem evoluiu do macaco ou animais similares) e a também teoria do Big Bang (o universo surgiu de uma gigantesca explosão, cuja distensão ainda acontece). Teorias, o nome já diz. Mas vários outros papas, dentre eles João Paulo II, também abordaram esse assunto, dando a entender ao mundo que a Igreja não descarta de todo as divagações científicas sobre o mundo e nossa origem. Desta feita, Francisco foi mais objetivo em sua posição: “Deus deu autonomia aos seres do Universo, ao mesmo tempo em que lhes assegurou sua presença contínua”. O homem, em todo processo criativo, sempre esteve ao lado de Deus como contribuinte e co-autor de sua Obra. “Ele os criou e deixou que se desenvolvessem de acordo com as leis internas que estabeleceu para cada um deles” – disse o papa. E acrescentou: “A evolução, na natureza, não contrasta com a noção de criação, porque a evolução pressupõe a criação dos seres que passam a evoluir”. Em outras palavras: um dia nós fomos criados para que pudéssemos crescer em sabedoria e graça diante do Pai...
            Como ficam Adão e Eva? Será que ainda existem pessoas no mundo que defendam com unhas e dentes não só a beleza poética da maravilhosa fábula da Criação? Quem ainda faz uma leitura textual do Genesis, quando “no princípio” tudo era Deus, ainda não evoluiu para o mistério da segunda criação, quando “no princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1,1) Entre uma criação e outra, evoluímos. O novo Adão se tornou a luz dos homens “e a luz resplandece nas trevas e as trevas não a compreenderam” (Jo 1,5). É preciso, então, que o novo Adão reafirme categoricamente: “Eu sou a luz do mundo”...
            Essa é a única certeza advinda da fé cristã. Se Adão e Eva existiram ou não, se foram um marco na etapa do surgimento do “homo sapiens” – aquele que se descobriu rei entre todas as criaturas que povoavam seu mundinho de encantamentos e aprendizados constantes – ou se foram simples figuras de metáfora de um autor inspirado por sua fé, não vem ao caso agora. As lições da criação continuam como pano de fundo de uma dramaturgia humana cujo primeiro ato foi descobrir um Ser superior, um Criador, um Pai a lhe conduzir desde os primeiros passos. Que diferença faz encontrar num exame de DNA alguns cromossomos similares aos de outros seres vivos? Sete dias ou setenta vezes sete milênios explicam o porquê do Universo? Faz alguma diferença em sua vida?  Sabemos que não.
             Na verdade, o que a Ciência tanto busca é explicações que o pensamento humano ainda não alcançou e nunca alcançará longe dos mistérios da fé. “Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (Jo 1,10-11). Nessa clara alusão da força divina e criadora do Messias cristão, encarnada e realinhada nas revelações de Cristo Jesus, está a resposta que Ciência e Religião tanto buscam ou apregoam. Nenhum passe de mágica, nenhum condão milagroso nos fará compreender os mistérios da Criação, sem a consciência de nossa insignificância. Para a Ciência, fica o óbvio: somos pó e ao pó voltaremos. Mas para o crente a certeza é melhor: Do Pai viemos, ao Pai voltaremos.

WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

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