domingo, 11 de dezembro de 2011

CONSELHO DE ANCIÃOS

CONSELHO DE ANCIÃOS

            A fisionomia jovial, quase criança, de um senador brasileiro na TV, dias destes, assustou-me e roubou de mim um comentário conformista: só mesmo no Brasil! Isto porque, por definição e origem do ofício, senador deriva de sênior, senex, palavra latina para definir velho, idoso, ancião. A origem do próprio nome já explica a função da mais remota hierarquia política, que na Roma antiga – isto há quatro mil anos antes de Cristo – era ouvida em assembleia e respeitada em suas decisões nos entraves apresentados pelas comunidades. Seus representantes eram denominados como Senadores, que, sob a tutela de uma república ou regime imperial, era a instituição política de maiores poderes abaixo dos governantes supremos. Tal sua importância, que o Império romano era conhecido sob a sigla SPQR, que significava: O senado é o Povo Romano.
            Até na velha e quase sempre desrespeitada ou esquecida mãe África, o continente berço da humanidade, ainda é possível encontrar núcleos tribais harmonizados e bem conduzidos comunitariamente sob as rédeas de pequenos senados, a voz experiente e sempre respeitada de seus idosos. Há exemplos mais próximos de nós. Nas aldeias indígenas brasileiras a importância do idoso é tão forte que decisões tomadas sob a luz de um Conselho de Anciãos tornam-se algo sagrado, inquestionável. Um exemplo bem claro é a manutenção de suas tradições, apesar do contato com a civilização, além do apego indígena às suas culturas e práticas religiosas ou mesmo a resistência destes às outras expressões políticas ou hierárquicas que não a própria. Além do respeito às suas tradições, ao conselho dos idosos compete a transmissão dos conhecimentos e da história de seu povo. Senado mais que federal... Universal, ideal! Mas o papel social do idoso num grupo tribal, aborígine em sua essência, é que os eleitos para representá-los com nível de poder ganham subtítulos conforme suas aptidões. No Brasil temos o cacique, o pajé, o curandeiro ou mesmo o profeta, cada qual com funções distintas, mas coordenadas pelas decisões conjuntas.
            Diante de histórico tão coerente e positivo para justificar a existência de um poder senatorial (poder dos idosos ou simplesmente o conselho dos anciãos) tentei entender a presença de jovens “senadores” (palavras que se opõem na própria etimologia) na vida política brasileira. Descobri que o senador brasileiro pode ser eleito a partir dos 35 anos. Seria tão baixa assim nossa expectativa de vida? Ou será porque aos 35 nada mais nos assusta, pois já vimos e aprendemos tudo o que tínhamos direito! Sei que não era assim antes, mas não consegui precisar a data em que essa regra contraditória nos foi imposta. Nem quem foi o artista. – Se alguém souber, me informe – O fato justifica a indignação popular contra seu Congresso, cujo senado deixa de lado sua função histórica e seu aspecto de voz da Razão, da Experiência, do Bom Senso acima dos entraves políticos do baixo escalão. O mesmo se poderia dizer ou entender da função de um juiz da Suprema Corte. Qual a idade mínima e o histórico que se exige para um assento no Supremo Tribunal Federal? Eis mais pano pra nossa manga.
            No entanto, na proximidade do ano em que poderei gozar dos privilégios da fila dos idosos, compete-me mais seriedade do que ironias. Além do mais, Natal vem chegando e os recessos parlamentares, o dejavú dos assuntos políticos dá espaço para “les fétes” regradas a champagnes, caviar... Poucos, pouquíssimos darão valor às palavras de um ancião. Como poucos, pouquíssimos prestaram atenção às palavras daquele velho Simeão, ansioso no templo de poder de sua época, na espera de um novo tempo. Quando viu o menino Jesus, suspirou profundamente e exclamou: “Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos...” (Lc 2, 34) Pois é, cada qual a seu tempo, seguimos os passos dos nossos velhos!
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br


  

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