UMA PARTÍCULA DE DEUS
O
mundo científico está alardeando aos quatro cantos do universo que encontrou a
partícula de Deus. Trata-se de uma teoria defendida pelo físico que lhe
empresta o nome, o Sr. Higgs que, depois de cinqüenta anos de dispendiosa
pesquisa, se emocionou e chegou às lágrimas ao ver sua teoria comprovada
cientificamente. Mas, afinal, o que significa essa tal partícula? Para a
ciência, muito. Para a religião, nada.
Segundo
a mais simplória das explicações, a teoria do bóson de Higgs determina a
existência de uma partícula que faz gerar a massa. Seria o motor da vida, da
matéria. Daí seu pseudo nome: partícula de Deus. Dela derivaria o Universo.
Talvez tenha sido essa a partícula mais dispendiosa da história humana, pois
que sua busca custou bilhões de dólares e exigiu a construção de um monstrengo
chamado LHC – grande colisor de partículas – um “ferrorama” de 27 kms e a cem
metros de profundidade que o mundo científico fez construir apenas e tão
somente para visualizar, por frações de segundos, a tão misteriosa partícula.
Para
nós leigos, toda essa baboseira pouco ou nada acrescenta ao mistério da nossa
origem. Talvez – e esse é seu lado positivo – afague o ego humano e sua necessidade
de aceitar – sem mesmo entender – um pouco mais os segredos que a vida nos
desvenda pouco a pouco. Se isso nos ajudar ao menos na compreensão dos
mistérios que rondam nossa existência, se o clareamento dos segredos da física
nos trouxer respeito ao milagre da Criação, se a mais ínfima das partículas do
Universo nos mostrar a ação de Deus e convencer aos teóricos desse mundo que na
origem de tudo só é possível encontrar Deus, então esse colisor terá cumprido
sua missão. Estaremos dando “massa” à ideia mais abstrata e ao mesmo tempo mais
concreta da realidade universal: Deus tudo e nada, princípio e fim, alfa e
ômega...
Não
condeno essa sede humana de desvendar seu universo físico. Bendita ciência da
qual emana todo e qualquer progresso. A questão maior não é essa interação do
homem com a própria matéria que o compõe ou circunda sua existência. O perigo
mora ao lado, ou seja, a falta de interação entre o seu ser material e seu ser
espiritual. Ou, para quem preferir, o eterno duelo entre Fé e Razão, Ciência e
Religião. Uma partícula que presumivelmente possa determinar a massa,
presumivelmente nunca determinará o espírito. São corpos distintos, energias
díspares, mas que se aceitam, coexistem, convivem conflitantes ou
harmoniosamente. Se a partícula de Higgs hoje lhe explica a origem de tudo,
será que também lhe explica suas lágrimas, sua emoção? É, emoção é coisa do
Espírito, da alma... Emoção é um afago de Deus. Então estamos diante de uma
cena histórica: a humanidade faz colidir seus prótons e nêutrons e vê Deus
aflorar-se numa partícula de muita emoção. Afinal, tudo o que hoje somos, tudo
o que nos rodeia, circunda nossa existência, preenche nossa sede de
conhecimentos, nada mais é que resultado de uma explosão, o Big Bang do Amor de
Deus, seu ato da Criação.
Isso
nos basta? Não, claro que não... À medida que avançamos mais no conhecimento da
natureza que nos reveste, mais e mais também caminhamos para a compreensão do
maior dos mistérios que nos aflige: Por que vivemos? O fato é que aqui estamos,
não por acaso, mas por concessão divina. “Tudo foi feito por ele e, sem ele
nada foi feito. Nele havia vida e a vida era a luz dos homens. A luz
resplandece nas trevas e as trevas não a compreenderam” (Jo 1,3-5). Essa luz
continua a iluminar mentes e almas que não desistem de se interrogar: por que
vivemos? Resposta que nunca será perfeita sem considerarmos uma partícula, uma
probabilidade mínima da existência de Deus. Porque a vida, tanto física quanto
espiritual, só se explica numa grande colisão humana com seu Criador.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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