ENTRE A CRUZ E O
PEIXE
A
origem da fé cristã não foi um mar de rosas. Ao contrário, um mar de sangue. A
história dos primeiros cristãos é uma dessas odisséias humanas que nunca será
plenamente compreendida dentre os clássicos episódios das lutas de dominação
entre povos, grupos, tribos ou etnias, dado a extraordinária força e capacidade
de superação só conhecidas na igreja de Cristo. Impérios e conquistadores
poderosíssimos a perseguiram (e ainda perseguem), sem nunca conseguirem
subjugá-la por completo. Ainda estamos aqui. Vencemos e continuamos vencendo.
Qual
o segredo de tamanha garra, perseverança? O próprio Cristo deixou gravado no
coração de seus seguidores a promessa da supremacia sobre todos os males contra
seu povo: “As portas do Inferno não prevalecerão sobre sua Igreja”. Diante de
tamanho poder e graça, às vezes o pobre cristão vacila, hesita na fé, titubeia
frente aos gritantes desafios que o mundo faz continuamente à sua opção.
Afinal, o mundo é avesso a tudo que foge de sua lógica terrena, a cruel
realidade metafísica, do racionalismo pau-pau, pedra-pedra que nossos olhos
contemplam. Deixamos de lado a capacidade de enxergar com o coração... E isso é
o grande empecilho para preservar o dom da fé, capacidade primeira da alma
submissa ao amor de Deus. A pureza da doutrina cristã está exatamente na
simplicidade desta. Isso os apóstolos descobriram logo de início, na
convivência com o Mestre, na escuta de sua Palavra, na prática de seus
ensinamentos, na compreensão de suas cruzes, na graça da perseguição, na glória
de seus martírios. Sobretudo, na visão das Promessas, pelas quais tudo valeria
a pena.
Uma
opção cristã, no entanto, não significava – e nem poderia significar –
submissão a tudo e aceitação passiva às injustiças que o mundo lhes infringia.
Eram perseguidos, sim. Eram mortos de maneira torpe, como agentes de vis
espetáculos circenses, mas fugiam quando possível, esbravejavam contra a
tirania, oravam pelos que os perseguiam, sepultavam seus mortos em campos
santos e perseveravam... Para sobreviverem como um povo adotaram até mesmo um
símbolo secreto, só revelado entre eles: o desenho de um peixe. Num eventual encontro, alguém traçava um semicírculo
no chão, na água, numa superfície qualquer. Era a deixa para o outro que, se
cristão também fosse, faria outro círculo côncavo ao primeiro, formando assim a
figura de um peixe. Pronto! Poderiam se falar à vontade, ajudarem-se mutuamente
ou mesmo conduzir o outro para os locais secretos onde aconteciam seus
banquetes eucarísticos.
Mas
donde vem tão estranho simbolismo? Do próprio nome de Jesus. Ou seja, da língua
grega... Segredo esse que foi descoberto um dia, segundo relatos históricos,
por Quilon, mago e espião do império romano, que vendeu essa informação a Petrônio,
tio do imperador Vinício, grande perseguidor dos cristãos. Diz o relato:
“Senhor, pronuncia em grego a frase seguinte: Jesus Cristo, Filho de Deus,
Redentor”. Certamente, a pronúncia não saiu em alto e bom tom, posto que o
simples pronunciar do nome de um Deus Desconhecido, na cultura pagã, poderia
significar apostasia. Mas, e daí? “Agora, toma a primeira letra de cada uma
dessas palavras e reúne-as de modo a formar uma nova palavra”. Então, a
revelação: Peixe!
Esse
foi o segundo grande escudo do povo cristão, depois da cruz. Um peixe. Seu
simbolismo persiste até hoje, principalmente em países onde o cristianismo é
mais intensamente rejeitado e sua cruz vilipendiada publicamente. Da mesma
forma que, num país cristão desde a origem, cujo primeiro nome foi Terra de
Santa Cruz, possa ocorrer a necessidade de substituí-la por um símbolo mais
discreto e menos assustador. Brasil, mostra tua cara! Povo de Deus ainda somos.
Nenhum cristão vai desenhar um peixe nas paredes só porque a tirania de nossas
leis resolveu expurgar a cruz de Cristo. De qualquer forma, Ele continuará
sendo Jesus Cristo, Filho de Deus Redentor.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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