domingo, 31 de agosto de 2014

RADICALISMO NÃO É FÉ

RADICALISMO NÃO É FÉ
            O mundo assiste de braços cruzados e olhar atônito o crescimento do fundamentalismo religioso. Não só em países de profissão islâmica, mas também em países onde a religião é um eterno contemplar da natureza e suas criaturas ou mesmo onde o cristianismo já fincou raízes como verdade inquebrantável. É o nosso caso. Por isso, falar ainda de grupos de extermínio que usam o nome de Deus para justificar suas atrocidades contra semelhantes é algo inconcebível, incompreensível. Mas como, Deus é por acaso um tirano, um radical extremista?
            Sabemos não ser esta a face divina de um Pai misericordioso. A face humana desse Deus que habita nossos corações, todavia, é terrivelmente assustadora, contraditória. Tanto no radicalismo islâmico, quanto no fundamentalismo cristão a humanidade só encontra um rascunho da benevolência divina. Às vezes, nem isso. Quando a rede que hoje nos interliga como raça e como seres capazes de superar fronteiras, vencer barreiras, nos comunicarmos instantaneamente, nos apresenta um mundo caótico e desumano – em especial com cenas macabras de destruição e imolações em nome de Deus – há algo de muito satânico nessa história mal escrita. Países tidos como de cultura mais ligada à tecnologia ou mesmo ao domínio das ciências se rendem ao curandeirismo (religioso ou não) e ao pragmatismo de negociatas com o divino, em nome de uma fé estritamente mercantilista ou mesmo em nome de uma almejada prosperidade que às vezes tarda. Brasil e outros mais estão nesta lista.
            Já na região que foi berço das três maiores religiões do mundo, que deveria ser o modelo humano de tolerância e respeito, onde o monoteísmo predominante elege um único Deus como senhor e criador de tudo, a carnificina tornou-se trivial e monótona. Seu mais recente histórico de barbáries está em curso e assusta o mundo. Um grupo de insurgentes radicais – que se diz defensor da fé islâmica – se autoproclamou “estado califado” (regime pelo qual um califa tem poderes absolutos, tanto políticos quanto religiosos) e vem dominando territórios na Síria e no Iraque (por enquanto) ao custo de muito derramamento de sangue. Cristãos, em especial, são perseguidos e mortos sem qualquer direito de defesa. Soldados que defendam os territórios conquistados, depois de rendidos, são perfilados em fila indiana e fuzilados às centenas. “Eles aterrorizam seus inimigos demonstrando comportamento cruel”, disse uma testemunha desses fatos. Tudo em defesa de uma fé?
            Não é possível uma resposta positiva sem questionamentos. O fato é que Deus não está presente na selvageria que nos engole, seja aqui ou acolá. O fato mais aterrador é a tristeza do coração divino, que não intervêm apenas em respeito ao nosso livre arbítrio. Mesmo assim, nos cabe interrogar: “Para onde irei, longe de vosso Espírito? Para onde fugir, apartado de vosso olhar? Se subir até aos céus, ali estais; se descer à região dos mortos, lá vos encontrais também” (Sl 138, 7-8).  Essa é a certeza, a fé mais translúcida e reconfortante dos que buscam Deus em meio ao caos das contradições humanas. Ele está em tudo, tudo sabe, irá julgar...
            Enquanto isso, aos que acreditam com pureza de coração, independentemente do credo, do país, da tribo ou casta à qual pertençam, Deus único e verdadeiro só encontramos no exercício do Amor. “Os que põem sua confiança nele compreenderão a verdade, e os que são fiéis habitarão com ele no amor: porque seus eleitos são dignos de favor e misericórdia. Mas os ímpios terão o castigo que merecem seus pensamentos, uma vez que desprezaram o justo e se separaram do Senhor” (Sab 3, 9-10). Exatamente nesta citação está a origem de qualquer fundamentalismo ou radicalismo. A questão é entender a imagem que trazemos de Deus em nossos corações.  De Amor ou Vingativo?
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br


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