domingo, 28 de setembro de 2014

O ATEÍSMO DEMOCRÁTICO

O ATEÍSMO DEMOCRÁTICO
            Sempre que se realizam eleições majoritárias um tema ressurge na surdina de muitos palanques, apesar de sua gritante necessidade de transparência: a fé em Deus. A cada eleição o assunto ganha aspectos curiosos e espectro de um fantasma que ronda o direito democrático do indivíduo que abraça sua fé. A competição Igreja-Estado não tem razão de ser, já que há muito essa separação pactual inexiste e em nada afeta a doutrina de um e o direito constitucional do outro. Porém, quando um subjuga o outro é preciso um eleitorado mais esclarecido, principalmente se este se sente violado em seu direito de expressar sua fé.
            Sem desrespeitar o direito daquele que se diz ateu, reforço aqui a liberdade religiosa de um país majoritariamente cristão. Exatamente por essa característica é que se há de respeitar a fé do povo, sem subtrair-lhe o direito do culto, das celebrações públicas, das expressões devocionais, do respeito a seus ícones, ao seu calendário, às suas normas e crenças, enfim a tudo aquilo que sabidamente faz parte do sagrado ofício de viver e testemunhar sua fé em Deus. Tanto quanto há de se respeitar a “fé” daqueles que dizem não ter fé (pois essa também é uma expressão de fé: eu acredito que não acredito). Porque uma democracia adulta se constitui no respeito geral e irrestrito do indivíduo, como cidadão e como filho de Deus.
            Como cidadão, quero acreditar nessa democracia. Como filho de Deus, tenho minhas dúvidas. Não por acaso, vemos crescer partidos e facções tendenciosas que se levantam e fazem tremular suas bandeiras contra tudo o que preconiza a fé cristã. Começou pela retirada gradativa dos símbolos religiosos das muitas repartições públicas desse país, sob o pretexto de ser laico o Estado. Ora, se assim o é, porque se mantêm outros símbolos, dos quais muitos discordam, quais siglas partidárias, brasões, símbolos de clubes de serviço, bustos, estátuas? Que mal há em exibir publicamente um ícone de fé e respeito ao que a humanidade tem de mais sagrado, sua esperança de eternidade? Seria tão maléfica essa fé ou não seria esse o ponto de equilíbrio numa sociedade sedenta de justiça, de amor, de fraternidade...
            Mas há muito mais nesta história. Aos poucos e quase imperceptivelmente, estamos caminhando para uma ditadura com ares de socialismo. Sob o pretexto de uma ação social meramente assistencialista, sem qualquer promoção humana digna do nome, compra-se o voto da população carente, sem lhes dar a devida visão crítica da realidade que os envolve. Por outro lado, essa massa de manobra útil aos que buscam o poder vai sendo dizimada aos poucos, até sob a alegação de um controle populacional necessário, que realiza vasectomia e ligaduras de trompa à revelia desses pacientes e submetem jovens ao consumo desenfreado de pílulas anticoncepcionais e camisinhas distribuídas gratuitamente. Saneamento básico?
            Enquanto isso, as relações da permissividade humana vão sendo aceitas como naturais. O direito de acesso à educação é fracionado de acordo com a cor, a casta, a origem do indivíduo e os interesses e necessidades do mercado. Cotas nada mais são do que um racionamento disfarçado em prioridade. E outras balelas mais.
            Um cristão tem que optar pela justiça divina, não pela demagogia servil e partidária de alguns poucos. Cuidado nesta escolha. O candidato ideal deve se identificar com o ideal da maioria. Como povo de Deus, merecemos respeito. Por isso “acreditamos em Jesus Cristo, e tiramos assim a nossa justificação da fé em Cristo, e não pela prática da Lei. Pois, pela prática da Lei, nenhum homem será justificado” (Gal 2,16). Nem partido, nem candidato algum. Pois, cá entre nós, a Lei de Deus permanece.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

             

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