domingo, 21 de setembro de 2014

SURFANDO NA FÉ

SURFANDO NA FÉ
            Um jovem brasileiro pode se tornar o primeiro santo surfista do catolicismo mundial. Trata-se de Guido Schaffer, médico e seminarista, que morreu afogado em primeiro de maio de 2009, aos 34 anos. Surfava com amigos na praia do Recreio, RJ, quando a prancha de um deles atingiu-lhe a nuca. Fatalidade pura e simples, não fosse o jovem uma liderança cristã sem precedentes, cujo velório atraiu mais de dois mil jovens e provocou intensa comoção entre todos que o conheceram. “Foi o maior pregador que ouvi na minha vida; abrasava meu coração ouvir o Guido pregando, era algo extraordinário, sua sabedoria era um dom de Deus”, testemunhou Marcos Vinícius, um dos muitos amigos com quem conviveu.
            Seu processo de beatificação está em curso e a arquidiocese do Rio só aguarda a autorização do Vaticano para enviar a papelada necessária. Há muita expectativa a respeito, já que a história de vida desse jovem está recheada de amor cristão sem limites. Foi estudar medicina tão somente para auxiliar mais concretamente na obra das Irmãs Missionárias da Caridade, cujo maior carisma era assistência hospitalar aos pobres e desvalidos. Nessa função, ganhou respeito e simpatia de todos. “Em todo o tempo, dava testemunho de sua fé, no seu proceder irrepreensível com os outros. Vivia conforme os valores cristãos da cordialidade, temperança, caridade e justiça” - comentou um colega de profissão, Dr. Milton Arantes.
            Cursava o último ano de teologia, no Seminário São José, quando Deus o quis consigo, exatamente no dia de São José, o grande operário da história da Salvação. Sua morte comoveu a cidade e a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana ficou pequena para sua missa de corpo presente. Mais de oitenta monges, bispos e padres, além do arcebispo estiveram presentes nessa última homenagem a um jovem, surfista como tantos ali presentes. Seu diferencial: nunca se envergonhar de sua fé. “Estar com o Guido era beber na fonte da sabedoria de Deus. Ao lado dele me sentia desafiado a ir para águas mais profundas. Ele estava sempre por perto para me encorajar e dar passos na fé para conhecer mais a Jesus”, disse Dudu, amigo de caminhada e de surfe.
            Muitos aqui se perguntam: se era tão especial, tinha tantos sonhos, tornou-se médico para servir aos pobres, estava prestes a receber a unção sacerdotal e servir mais concretamente à Igreja que tanto amava, por que Deus o levou tão cedo? Ora, ora, estar ao lado de Deus como modelo de vida e santidade, em especial aos jovens, não é um privilégio maior? Em vida conquistou milhares, mas sua história de vida conquistará outros milhões. Seu espólio de virtudes e seu carisma missionário ultrapassam as fronteiras e limitações humanas para expandir-se como modelo num mundo ávido por novas perspectivas de vida e espiritualidade. “Todas as nossas ações devem visar o amor de Deus” – era seu lema. Até surfando, devemos reconhecer esse amor. Tanto que, muitas vezes, surpreendia os colegas desafiando-os a rezar o terço antes do surfe ou recitando um salmo na cerimônia de formatura numa Faculdade de Medicina, ou convidando um drogado a ler com ele um trecho da Bíblia... Isso tudo sem deixar rastro de antipatia ou sinais de imposição da Fé, pois esta ele demonstrava pelo testemunho que irradiava.
            Como se vê, a santidade não é privilégio de poucos. Ser beato ou santo não é coisa do passado. A Igreja está atenta e vez ou outra descobre entre simples mortais exemplos como deste jovem, que mesmo surfando entre ondas traiçoeiras, soube como poucos viver a alegria de surfar no coração de Deus.

WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

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