O CAMINHO DA PRUDÊNCIA
No
agito que se pôs o ser humano, prudência não é uma preocupação moderna. Parece
mais algo relacionado aos idosos, aos debilitados, aos que tropeçam ou ficam
pelo caminho. Poucos medem as consequências de seus atos, quando o mundo nos
pede agilidade, determinação, objetividade e clareza de ideais. Este é o custo
de um mundo célere, de uma sociedade que se transforma segundo a segundo, como
se viajasse a bordo de um trem-bala, ou seguisse o rabo de um cometa. Nessa
viagem, deixamos na plataforma do passado as malas da prudência.
Os
Provérbios bíblicos associam a prudência às virtudes dos sábios e inteligentes.
Não basta ser sábio, nem inteligente; tem que ser prudente. “Uma repreensão
causa mais efeito num homem prudente do que cem golpes num tolo (Prov 17,10)”. Temos
aqui não apenas uma frase de efeito, mas que faria corar os semblantes mais
cônscios, que possuam um mínimo de referencia moral ou ética a balizar suas
vidas. Quem conhece seus limites, se deixa conduzir pela voz da prudência. “O
que mede suas palavras possui a ciência, quem é calmo de espírito é um homem
inteligente. Mesmo o insensato passa por sábio, quando se cala, por prudente,
quando fecha sua boca (Prov 17,27-28)”.
Neste
caminho, o que vamos encontrar pela frente são dois tipos bem conhecidos
nossos: o sábio que se acha inteligente e o inteligente que se acha sábio. Ora,
dá no mesmo? Talvez na perspectiva humana, sim. Mas, aos olhos da Sabedoria
maior, aquela que nos foi dada como dom divino, sábios e inteligentes verdadeiros
são aqueles que, antes de qualquer bravata, praticam a prudência. “Diz à
sabedoria: 'Tu és minha irmã’ e chama a inteligência: ‘Minha amiga’ (Prov 7,4).
Age com a humildade suficiente para não se exceder nas malhas da arrogância,
prepotência ou qualquer outra cilada que a vaidade pessoal sempre nos arma.
Esse é o verdadeiro sábio, o inteligente maior.
“Sede,
pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas”, nos aconselhou
Jesus (Mt 10, 16). Acontece que nas serpentes só enxergamos astúcia e maldade.
Só mesmo Jesus para reconhecer nelas alguma virtude. Mas, ei-las, então: A
prudência ensinou a serpente a se camuflar no ambiente para preservar sua vida.
A prudência faz com que troque de pele periodicamente, para eliminar parasitas
e renovar seu visual, tornando-a sempre bem disposta e ágil. Por prudência,
habita vales pedregosos e de difícil acesso e cria suas ninhadas cercadas por
muitos espinhos. Pouco enxerga, mas prudentemente utiliza sua língua para
descobrir vibrações ou cheiros que possam ameaçá-la. Qualquer interferência
estranha à sua rotina a faz fugir sem esperar respostas. Quem diria, não! Até a
vida de asquerosas serpentes pode nos dar lições de moral...
Então
sigamos nossa estrada. O caminho desconhecido é escola de aprendizado múltiplo,
surpreendente, fascinante. Por isso, continuar aprimorando nossa sabedoria e
inteligência será uma das mais prazerosas atividades nessa empreitada humana.
Uma viagem que pensamos realizar individualmente, à medida que a vida é um bem
pessoal. Mas, quando olhamos ao redor, ah, quantos caminham conosco! E,
desastradamente, tentamos imitar as serpentes. Ou seja: nos camuflamos... para
preservar o que é nosso. Trocamos nossa pele (usamos máscaras)... para não
dividir com o semelhante. Ocultamo-nos em nossas tocas, fechamo-nos em nós
mesmos, para preservar, mesmo que entre espinhos, o pouco que construímos. E -
a mais perfeita imitação - usamos nossas línguas para destruir qualquer
vibração de amor ao próximo.... Prudência de Serpentes, mas sem a simplicidade
das Pombas!
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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