domingo, 16 de junho de 2013

O CAMINHO DA PRUDÊNCIA

O CAMINHO DA PRUDÊNCIA
            No agito que se pôs o ser humano, prudência não é uma preocupação moderna. Parece mais algo relacionado aos idosos, aos debilitados, aos que tropeçam ou ficam pelo caminho. Poucos medem as consequências de seus atos, quando o mundo nos pede agilidade, determinação, objetividade e clareza de ideais. Este é o custo de um mundo célere, de uma sociedade que se transforma segundo a segundo, como se viajasse a bordo de um trem-bala, ou seguisse o rabo de um cometa. Nessa viagem, deixamos na plataforma do passado as malas da prudência.
            Os Provérbios bíblicos associam a prudência às virtudes dos sábios e inteligentes. Não basta ser sábio, nem inteligente; tem que ser prudente. “Uma repreensão causa mais efeito num homem prudente do que cem golpes num tolo (Prov 17,10)”. Temos aqui não apenas uma frase de efeito, mas que faria corar os semblantes mais cônscios, que possuam um mínimo de referencia moral ou ética a balizar suas vidas. Quem conhece seus limites, se deixa conduzir pela voz da prudência. “O que mede suas palavras possui a ciência, quem é calmo de espírito é um homem inteligente. Mesmo o insensato passa por sábio, quando se cala, por prudente, quando fecha sua boca (Prov 17,27-28)”.
            Neste caminho, o que vamos encontrar pela frente são dois tipos bem conhecidos nossos: o sábio que se acha inteligente e o inteligente que se acha sábio. Ora, dá no mesmo? Talvez na perspectiva humana, sim. Mas, aos olhos da Sabedoria maior, aquela que nos foi dada como dom divino, sábios e inteligentes verdadeiros são aqueles que, antes de qualquer bravata, praticam a prudência. “Diz à sabedoria: 'Tu és minha irmã’ e chama a inteligência: ‘Minha amiga’ (Prov 7,4). Age com a humildade suficiente para não se exceder nas malhas da arrogância, prepotência ou qualquer outra cilada que a vaidade pessoal sempre nos arma. Esse é o verdadeiro sábio, o inteligente maior.
            “Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas”, nos aconselhou Jesus (Mt 10, 16). Acontece que nas serpentes só enxergamos astúcia e maldade. Só mesmo Jesus para reconhecer nelas alguma virtude. Mas, ei-las, então: A prudência ensinou a serpente a se camuflar no ambiente para preservar sua vida. A prudência faz com que troque de pele periodicamente, para eliminar parasitas e renovar seu visual, tornando-a sempre bem disposta e ágil. Por prudência, habita vales pedregosos e de difícil acesso e cria suas ninhadas cercadas por muitos espinhos. Pouco enxerga, mas prudentemente utiliza sua língua para descobrir vibrações ou cheiros que possam ameaçá-la. Qualquer interferência estranha à sua rotina a faz fugir sem esperar respostas. Quem diria, não! Até a vida de asquerosas serpentes pode nos dar lições de moral...
            Então sigamos nossa estrada. O caminho desconhecido é escola de aprendizado múltiplo, surpreendente, fascinante. Por isso, continuar aprimorando nossa sabedoria e inteligência será uma das mais prazerosas atividades nessa empreitada humana. Uma viagem que pensamos realizar individualmente, à medida que a vida é um bem pessoal. Mas, quando olhamos ao redor, ah, quantos caminham conosco! E, desastradamente, tentamos imitar as serpentes. Ou seja: nos camuflamos... para preservar o que é nosso. Trocamos nossa pele (usamos máscaras)... para não dividir com o semelhante. Ocultamo-nos em nossas tocas, fechamo-nos em nós mesmos, para preservar, mesmo que entre espinhos, o pouco que construímos. E - a mais perfeita imitação - usamos nossas línguas para destruir qualquer vibração de amor ao próximo.... Prudência de Serpentes, mas sem a simplicidade das Pombas!
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br


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