domingo, 9 de junho de 2013

UM PAPA PECADOR

UM PAPA PECADOR
           
O Papa Francisco pôs em reboliço muitos editoriais midiáticos ao se dizer pecador. A imprensa – em sua maioria distante dos mistérios e da teologia cristã – caiu matando, com uma perguntinha assaz oportunista e tendenciosa: Mas como? O próprio Papa comete pecados? É a típica pergunta de quem se acha dono da verdade. Não fosse a caridade de compreender essa ausência de humildade e falta de visão ou compreensão sobre a misericórdia divina, diria ser este o maior pecado da imprensa livre e tendenciosa: não reconhecer os próprios. Porque já se disse – e muito bem dito – que o maior pecado humano é não admitir que todo ser humano é pecador. Até o Papa admite.
            Um pensador, Blaise Pascal, escreveu a respeito: Há duas espécies de homens: uns que se consideram pecadores, e os pecadores que se consideram justos. E o Papa Francisco, falando de improviso a uma multidão na praça de São Pedro, disse textualmente: “Também o Papa tem muitos pecados, mas quando nos damos conta desse pecado, encontramos a misericórdia de Deus. Deus sempre perdoa. Não nos esqueçamos disso”. Mais adiante, acrescentou: “Toda a história da salvação é a história de Deus que busca o homem, lhe oferece seu amor e o acolhe”.
            Não vamos aqui discutir a tão propalada questão da “infalibilidade papal”. Esse é outro assunto. Dogma e princípio de fé nos itens a ela relacionados. O que se discute é o aspecto humano e sua propalada origem – fraca e negligente com seus próprios princípios de moral e seus apelos de consciência – mas sempre chamada à reconciliação ou ao menos ao reposicionamento de suas condutas contrárias aos desejos de Deus. Aquilo que denominamos pecado não passa de um ato de desobediência ou afastamento da graça divina, a força que nos criou e nos conduz. Por outro lado, nossa infidelidade ao projeto de amor ditado por Deus é característica da fraqueza humana, o que não deixa de ser pecado.
            Por força de nossa origem, o pecado original foi uma grande nódoa que obscureceu a relação humana com seu Criador. Conhecemos a história e como esta se reverteu, com a imolação do Cristo. A tradição da Igreja, todavia, nos lembra sempre que não somos isentos da imperfeição, que somos fracos, volúveis e tropeçamos sempre, apesar do preço altíssimo de nossa redenção. Esse é o ensinamento da Igreja. Ora, “tu, que ensinas aos outros... não te ensinas a ti mesmo!” (Rom 2,21). Então, também o Papa, como ser humano falível e limitado, tem o dever e o cuidado de reconhecer-se como os demais, pecador, pequeno, frágil... “Não há doente mais incurável do que aquele que não reconhece a sua doença”, diria Santo Agostinho. Da mesma forma que acrescentaria: “O pecador, ainda que seja rei (ou papa) é escravo, não de um único homem, mas de tantos senhores quanto sejam seus vícios”. E de vícios entendemos bem.
            Então, se o próprio Papa se diz sujeito às mazelas do Inimigo, que se dirá de nós? Mas a graça é maior que a fraqueza. Dela e da misericórdia do Pai é que fluem as forças necessárias para vencermos todo e qualquer pecado, todo e qualquer perigo contra a preciosidade de nossa alma – a maior riqueza que temos. “Assim como pela desobediência de um só homem foram todos constituídos pecadores, assim pela obediência de um só todos se tornarão justos” (Rom 5, 210.  Nisto reside nossa esperança, nossa contrição. Como dizemos em ato contínuo, na fé que professamos: “Eu pecador, me confesso”... Nós, nós todos, Papa e reis, Bispos e padres, cristãos e ateus, nos confessamos diante da misericórdia divina: Perdoa-nos, ó Pai, o maior dos nossos pecados: a prepotência de nos julgarmos santos, donos da verdade...
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br




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