UM PAPA PECADOR
O Papa
Francisco pôs em reboliço muitos editoriais midiáticos ao se dizer pecador. A
imprensa – em sua maioria distante dos mistérios e da teologia cristã – caiu
matando, com uma perguntinha assaz oportunista e tendenciosa: Mas como? O próprio
Papa comete pecados? É a típica pergunta de quem se acha dono da verdade. Não
fosse a caridade de compreender essa ausência de humildade e falta de visão ou
compreensão sobre a misericórdia divina, diria ser este o maior pecado da
imprensa livre e tendenciosa: não reconhecer os próprios. Porque já se disse –
e muito bem dito – que o maior pecado humano é não admitir que todo ser humano
é pecador. Até o Papa admite.
Um
pensador, Blaise Pascal, escreveu a respeito: Há duas espécies de homens: uns
que se consideram pecadores, e os pecadores que se consideram justos. E o Papa
Francisco, falando de improviso a uma multidão na praça de São Pedro, disse
textualmente: “Também o Papa tem muitos pecados, mas quando nos damos conta
desse pecado, encontramos a misericórdia de Deus. Deus sempre perdoa. Não nos
esqueçamos disso”. Mais adiante, acrescentou: “Toda a história da salvação é a
história de Deus que busca o homem, lhe oferece seu amor e o acolhe”.
Não
vamos aqui discutir a tão propalada questão da “infalibilidade papal”. Esse é
outro assunto. Dogma e princípio de fé nos itens a ela relacionados. O que se
discute é o aspecto humano e sua propalada origem – fraca e negligente com seus
próprios princípios de moral e seus apelos de consciência – mas sempre chamada
à reconciliação ou ao menos ao reposicionamento de suas condutas contrárias aos
desejos de Deus. Aquilo que denominamos pecado não passa de um ato de
desobediência ou afastamento da graça divina, a força que nos criou e nos
conduz. Por outro lado, nossa infidelidade ao projeto de amor ditado por Deus é
característica da fraqueza humana, o que não deixa de ser pecado.
Por
força de nossa origem, o pecado original foi uma grande nódoa que obscureceu a
relação humana com seu Criador. Conhecemos a história e como esta se reverteu,
com a imolação do Cristo. A tradição da Igreja, todavia, nos lembra sempre que
não somos isentos da imperfeição, que somos fracos, volúveis e tropeçamos
sempre, apesar do preço altíssimo de nossa redenção. Esse é o ensinamento da
Igreja. Ora, “tu, que ensinas aos outros... não te ensinas a ti mesmo!” (Rom
2,21). Então, também o Papa, como ser humano falível e limitado, tem o dever e
o cuidado de reconhecer-se como os demais, pecador, pequeno, frágil... “Não há
doente mais incurável do que aquele que não reconhece a sua doença”, diria
Santo Agostinho. Da mesma forma que acrescentaria: “O pecador, ainda que seja
rei (ou papa) é escravo, não de um único homem, mas de tantos senhores quanto
sejam seus vícios”. E de vícios entendemos bem.
Então,
se o próprio Papa se diz sujeito às mazelas do Inimigo, que se dirá de nós? Mas
a graça é maior que a fraqueza. Dela e da misericórdia do Pai é que fluem as
forças necessárias para vencermos todo e qualquer pecado, todo e qualquer
perigo contra a preciosidade de nossa alma – a maior riqueza que temos. “Assim
como pela desobediência de um só homem foram todos constituídos pecadores,
assim pela obediência de um só todos se tornarão justos” (Rom 5, 210. Nisto reside nossa esperança, nossa contrição.
Como dizemos em ato contínuo, na fé que professamos: “Eu pecador, me
confesso”... Nós, nós todos, Papa e reis, Bispos e padres, cristãos e ateus,
nos confessamos diante da misericórdia divina: Perdoa-nos, ó Pai, o maior dos
nossos pecados: a prepotência de nos julgarmos santos, donos da verdade...
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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