O PODER DO ABRAÇO
Nunca abrace
ou aceite o abraço de um tamanduá. Suas garras poderosas e afiadas poderão lhe
furar os pulmões. Nem sequer o abraço de um urso. Ele estourará suas costelas.
Mas de um amigo... corra, corra para o abraço sempre que for possível. Para a
pessoa amada nunca se faça de difícil, pois este abraço só pode revitalizar
seus pulmões e revigorar sua vida, seus sentimentos.
O
que dizer, então, quando o abraço parte da pessoa do papa? Quantos dentre nós
tiveram a graça de serem abraçados por ele, durante sua histórica passagem
dentre nós! Fico a imaginar a história, as motivações, a consequência desses
abraços registrados profusamente pela imprensa. Especialmente aqueles
inesperados, surpreendentes, premiando especialmente crianças e idosos que se
postaram ao longo do trajeto papal, sem esperar mais do que a graça de vê-lo
passar. Mas dele receberam carinho e surpreendentes gestos de afeto e abraços
fraternos.
Se
pudéssemos levantar a história de cada um desses abraços... Sei, por exemplo,
de uma senhora, bem idosa, que quase brigou com a família para estar no meio
daquele povo, com a certeza de que o papa iria abraçá-la pessoalmente. Tanto
disse, quanto teimou em varar uma noite de vigília, no aguardo desse abraço. E,
para espanto da família, o papa parou seu veículo, desceu e foi em direção a
ela, determinado, consciente de que aquela senhora ali estava apenas para ser
abraçada por ele.
Outras
tantas também receberam essa graça. Não um simples abraço, mas um sinal divino
de uma graça alcançada. Também aqueles jovens estigmatizados pela dependência
química, mas agora em processo de libertação através da opção de fé, sentiram
no amplexo do papa a certeza da vitória que almejam, pois, como o próprio papa
afirmou textualmente: “em cada irmão e irmã em dificuldade, nós abraçamos a
carne sofredora de Cristo”. O papa veio nos reeducar para o abraço. Deu-nos o
exemplo sem temor algum, sem escolhas pré-determinadas ou cerimoniosas, mas
espontâneas e livres de qualquer etiqueta ou norma de segurança pessoal.
Abraçou a cada um como que abraçando o povo todo.
Deixou
seu recado na prática e na prédica. “Abraçar, abraçar. Precisamos todos
aprender a abraçar quem passa necessidade, como fez São Francisco”. Como fez
ele, o novo Francisco. “Precisamos todos de olhar o outro com os olhos de amor
de Cristo, aprender a abraçar quem passa necessidade, para expressar
solidariedade, afeto e amor. Mas abraçar não é suficiente. Estendamos a mão a
quem vive em dificuldade, a quem caiu na escuridão da dependência, talvez sem
saber como, e digamos-lhe: Você pode se levantar, pode subir; é exigente, mas é
possível se você quiser”.
Um
abraço é gesto de comprometimento. Quem abraça, aceita. Daí que não será um
abraço gestual, simbólico, muitas vezes farisaico, que provocará as mudanças
esperadas. Vai daí que o abraço verdadeiro requer conhecimento de causa e
efeito, ou seja: quem abraça a fé cristã, abraça a cruz. Porém uma cruz
libertadora, capaz de reatar laços, criar novos vínculos, reabilitar e renovar
nossas esperanças. Disse o papa: “Na cruz de Cristo está o sofrimento, o pecado
do homem, o nosso também, e Ele acolhe tudo com seus braços abertos, carrega na
suas costas as nossas cruzes e nos diz: Coragem! Você não está sozinho a
levá-la! Eu a levo com você. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperança,
dar-lhe vida”. Esse é o abraço maior, o abraço divino. Cristo, de braços
abertos na cruz, nos ensina a abraçar o outro, o mundo, com seu olhar clemente
de amor por nós. Ali está o maior abraço que poderíamos merecer, a doação total
de um Deus por nós. É desse abraço que Francisco nos fala em seu gestual de
carinho.
Aqui,
portanto, também deixo meu abraço fraterno. Aquele abraço!
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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