SURFANDO NA FÉ
Um
jovem brasileiro pode se tornar o primeiro santo surfista do catolicismo
mundial. Trata-se de Guido Schaffer, médico e seminarista, que morreu afogado
em primeiro de maio de 2009, aos 34 anos. Surfava com amigos na praia do
Recreio, RJ, quando a prancha de um deles atingiu-lhe a nuca. Fatalidade pura e
simples, não fosse o jovem uma liderança cristã sem precedentes, cujo velório
atraiu mais de dois mil jovens e provocou intensa comoção entre todos que o
conheceram. “Foi o maior pregador que ouvi na minha vida; abrasava meu coração
ouvir o Guido pregando, era algo extraordinário, sua sabedoria era um dom de
Deus”, testemunhou Marcos Vinícius, um dos muitos amigos com quem conviveu.
Seu
processo de beatificação está em curso e a arquidiocese do Rio só aguarda a
autorização do Vaticano para enviar a papelada necessária. Há muita expectativa
a respeito, já que a história de vida desse jovem está recheada de amor cristão
sem limites. Foi estudar medicina tão somente para auxiliar mais concretamente
na obra das Irmãs Missionárias da Caridade, cujo maior carisma era assistência
hospitalar aos pobres e desvalidos. Nessa função, ganhou respeito e simpatia de
todos. “Em todo o tempo, dava testemunho de sua fé, no seu proceder
irrepreensível com os outros. Vivia conforme os valores cristãos da
cordialidade, temperança, caridade e justiça” - comentou um colega de
profissão, Dr. Milton Arantes.
Cursava
o último ano de teologia, no Seminário São José, quando Deus o quis consigo,
exatamente no dia de São José, o grande operário da história da Salvação. Sua
morte comoveu a cidade e a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana ficou pequena
para sua missa de corpo presente. Mais de oitenta monges, bispos e padres, além
do arcebispo estiveram presentes nessa última homenagem a um jovem, surfista
como tantos ali presentes. Seu diferencial: nunca se envergonhar de sua fé.
“Estar com o Guido era beber na fonte da sabedoria de Deus. Ao lado dele me
sentia desafiado a ir para águas mais profundas. Ele estava sempre por perto
para me encorajar e dar passos na fé para conhecer mais a Jesus”, disse Dudu,
amigo de caminhada e de surfe.
Muitos
aqui se perguntam: se era tão especial, tinha tantos sonhos, tornou-se médico
para servir aos pobres, estava prestes a receber a unção sacerdotal e servir
mais concretamente à Igreja que tanto amava, por que Deus o levou tão cedo?
Ora, ora, estar ao lado de Deus como modelo de vida e santidade, em especial
aos jovens, não é um privilégio maior? Em vida conquistou milhares, mas sua história
de vida conquistará outros milhões. Seu espólio de virtudes e seu carisma
missionário ultrapassam as fronteiras e limitações humanas para expandir-se
como modelo num mundo ávido por novas perspectivas de vida e espiritualidade.
“Todas as nossas ações devem visar o amor de Deus” – era seu lema. Até
surfando, devemos reconhecer esse amor. Tanto que, muitas vezes, surpreendia os
colegas desafiando-os a rezar o terço antes do surfe ou recitando um salmo na
cerimônia de formatura numa Faculdade de Medicina, ou convidando um drogado a
ler com ele um trecho da Bíblia... Isso tudo sem deixar rastro de antipatia ou
sinais de imposição da Fé, pois esta ele demonstrava pelo testemunho que
irradiava.
Como
se vê, a santidade não é privilégio de poucos. Ser beato ou santo não é coisa
do passado. A Igreja está atenta e vez ou outra descobre entre simples mortais
exemplos como deste jovem, que mesmo surfando entre ondas traiçoeiras, soube
como poucos viver a alegria de surfar no coração de Deus.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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