domingo, 25 de dezembro de 2011

PREVISÕES SEM LASTRO

PREVISÕES SEM LASTRO

            Desde que me entendo por gente, o mundo já teria se acabado por mais de cinqüenta vezes. A cada fim de ano, revejo com ironia as previsões catastróficas que muitos profetas do caos divulgam como favas contadas. Atiram no escuro de um futuro que desconhecemos, chamando a atenção e despertando o medo ou mesmo a confusa fé dos incautos. Seja por fatores advindos do trato humano ao seu planeta, seja pelas distorções dos escritos sagrados ou mesmo pela mística que a dança astrológica exerce sobre nós, pobres e insignificantes mortais, o fato é que muitos tiram proveito deste lastro de confusas informações para tecerem seus diagnósticos sobre o futuro.
            Quando criança, seguia também à risca essas previsões. Até as anotava, para conferi-las no ano seguinte. Cheguei mesmo a despertar minha curiosidade para as órbitas interestelares, buscando a possibilidade de descobrir um cometa em rota de colisão. Seria o fim, mas seria também minha glória... Lembro-me que o gosto por essa matéria influenciou até meus filhos. Em 1979, uma estação espacial norte americana, pesando 69 toneladas, colidiu com a Terra. Nada comparável a qualquer satélite natural, mas a divulgação da queda em lugar incerto deixou o mundo em polvorosa apreensão. Meu filho mais velho, ciente do perigo, não falava em outra coisa. “O Skylab, pai! Vai cair e destruir o mundo!” E a pobre criança buscava abrigo até embaixo da mesa, apavorado como muitos. Mas a queda foi um pífio espetáculo que emergiu nas águas de um oceano qualquer.
            Seguiram-se mais previsões, sempre embaladas por interferências humanas sobre o equilíbrio de seu mundinho ferido na harmonia e desgastado nas relações daqueles que o povoam. Ora era uma hecatombe nuclear. Ora, um desastre ecológico (o único que respeito e ainda temo), ora um castigo dos céus. De 2.000 não passará. E passou. Mas 2012...
            Bem ou mal, aqui chegamos. Olhar para trás é sempre oportunidade de reconhecer os desacertos e mirar com mais objetividade os acertos que buscamos. Tudo muito lógico e até saudável no campo material, no aspecto físico. Quantas conquistas já obtivemos com essas análises históricas, esse repaginar do passado em busca do futuro! Agora, no aspecto espiritual, muitos ainda vivem na idade da pedra. Pouco ou nada possuem de concreto – de sólido mesmo, apesar da disparidade entre matéria e espírito – que ateste maior maturidade humana diante de sua realidade também espiritual. Corpo e alma é o que somos. Essa identidade mística nos faz ver o mundo, o tempo e o espaço que ocupamos na vida como meros instrumentos, veículos de uma viagem muito mais ampla que aquela contada pela órbita da Terra ao redor do Sol. Nossa rotação e translação são mais amplas que a insignificante contagem dos dias e anos num calendário. Nem por isso vamos desqualificá-la
            Aqui é que são elas. Viajamos sem a contemplação da paisagem, mas com a preocupação do destino. Onde acabará essa odisséia? Como? “O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes donde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito” (Jo 3,8) A verdade não assusta, nem preocupa, quando o espírito humano encontra sintonia com os mistérios divinos, o plano que o Pai nos traçou. Essa é a previsão que liberta, a verdade dos que aprendem a contemplar o cenário, o dia-a-dia. “Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai” (Mt 24,36) Eis o lastro dos que fazem da própria vida uma aventura nunca banal, mas providencial, privilegiada. Pois que na nave que embarcamos o piloto é o Pai. Boa viagem, ops, bom ano!
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     
                        WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

Nenhum comentário: