O AMANTE DOS BICHOS
O
homem cujo nome é reconhecido por todos os credos e culturas como exemplo de
respeito e amor ao Planeta e às suas criaturas é um santo católico.
Recentemente seu nome foi aureolado com o título de Homem do Milênio. Sua
biografia perfaz o caminho do antes e depois, do antigo e do restaurado, do
homem velho e do homem novo. Foi a criatura humana que mais se aproximou da criatura
divina, personificada por Jesus Cristo. Tanto que até seus estigmas recebeu
durante a vida. Francisco, o pobrezinho de Assis, outrora o perdulário e
arrogante herdeiro das maiores riquezas do vale de Espoleto, na Itália, amava
os animais.
De
todas as virtudes que extrapolam da vida franciscana após sua radical opção por
Cristo, talvez a que melhor nos fale neste momento de completa negligência com
o mundo em que vivemos é seu amor à Obra Criadora do Pai, em especial suas
criaturas mais inferiores. Sabemos de seu inusitado amor pelos animais. A ponto
de, por diversas vezes, preferir pregar a eles, ao invés de pregar aos homens.
Certa feita, enquanto muitas pessoas se acercavam de seus irmãos para ouvi-los,
Francisco se afastou em direção a um grupo de pássaros. Faziam um alarido
enorme, com sua diversidade de sons e espécies, a saudarem o dia naquele vale
fértil e repleto de alimentos a todos eles. Quando chegou perto, nenhum deles
manifestou medo, pois pareciam compreender sua saudação, seu bom-dia cordial.
Disse-lhes: “Passarinhos, meus irmãos, vocês devem sempre louvar o Criador e
amá-lo, porque lhes deu penas para vestir, asas para voar e tudo que vocês
precisam. Deus lhes deu um bom lugar entre as suas criaturas e lhes permitiu
morar na pureza do ar, pois embora vocês não semeiem e nem colham, não precisam
se preocupar porque Ele cuida de proteger e guardar vocês”.
Coisa
de louco? Pois maior loucura foi a daqueles pássaros que passaram a fazer
grande festa ao santo pregador, como que endossando suas palavras. Disseram as
testemunhas dessa história que faziam-lhe o maior alarido, voando sobre sua
cabeça, roçando-lhe as vestes, pousando sobre suas mãos... Só foram embora
quando Francisco os abençoou com o sinal da cruz e lhes deu permissão para
voarem. Noutra ocasião, pregava a um bom grupo de pessoas, quando um bando de
andorinhas sobrevoou o local fazendo grande alarido com seus trinados
intermitentes. Parou o sermão para repreender aos pássaros, pedindo-lhes
silêncio e respeito à Palavra de Deus. Imediatamente o bando se aquietou até
que se terminasse a pregação.
Mas
Francisco também dava de comer às criaturas de Deus. Foi o caso de um casal de
passarinhos que, diariamente, adentrava a janela do refeitório para buscar
migalhas à mesa do santo e levá-las a seus filhotes num ninho próximo. Um belo
dia o casal apresentou os filhotes já crescidos aos frades, que passaram a se
alimentar com as migalhas, agora de forma independente. Francisco observou que,
dentre as crias do casal de pássaros, o maior era mais guloso e não deixava o
menor se aproximar das migalhas. E comentou: “Vede o que faz esse avarento.
Cheio e empanturrado, tem inveja de seus esfomeados irmãos. Ainda vai acabar
mal”. Dias depois, o insaciável pássaro morreu afogado num jarro de água.
Nenhum gato ou qualquer outro animal quis devorar seu corpo. Também há a
história de uma porca malvada que matou o filhote recém nascido de uma ovelha.
Quando soube do fato, o piedoso santo chorou pela morte do cordeirinho e
amaldiçoou a porca cruel. Esta morreu após três dias, sem que ninguém lhe
aproveitasse as carnes, jogada num lixeiro, seca como uma tábua.
Proibia
seus frades de arrancar a lenha de uma árvore por completo, na esperança de que
brotassem. Reservou um canteiro em sua horta para ervas aromáticas e flores.
Recolhia os vermes pelo caminho. Mandava dar mel às abelhas no inverno. Chamava
de irmãos aos animais, preferindo os mais mansos. Amava a Natureza.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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