domingo, 14 de outubro de 2012

LEILOANDO A ALMA


LEILOANDO A ALMA

Você entregaria sua alma a quem lhe oferecesse mais? Pois ao que parece, não só a estudante brasileira que resolveu leiloar sua virgindade se acha discípula primorosa da lei do Gerson (aquela de se levar vantagem em tudo), mas igualmente grande porcentagem de expertises faria qualquer coisa pelo vil metal.  O lado ruim de vender a alma é que nunca se conhece o comprador – se Deus ou o Diabo – posto serem ambos os maiores interessados nessa aquisição. Já a virgindade...

            Para quem está entrando no assunto sem conhecimento dos fatos, eis algumas de suas nuances a seguir. Um concurso pela internet, com justificativas de fundamentar um documentário sobre costumes e tradições morais, lançou um desafio a jovens virgens que topassem protagonizar a pauta sem propósitos claros do cineasta australiano Justin Sisely. Dentre muitas, uma catarinense de 18 anos à época foi a escolhida. Desde então, a jovem brasileira hoje com 20 anos vive em Bali, onde aguarda o resultado da melhor oferta, que já atinge a cifra dos US$ 255 mil. A consumação do fato está prevista para o próximo 25 de outubro e se dará num voo partindo da Austrália ou Indonésia, rumo aos EUA, “para evitar complicações com leis tipo as que condenam a prostituição”, dizem os organizadores.

            Já a pobre menina-moça se justifica com a falsa demagogia de estar buscando meios financeiros para um projeto social (vejam só!) para atender famílias carentes do Brasil. “Faço apenas um negócio, que não é prostituição, pois não pretendo repeti-lo”. Então, se vender o corpo não é mais prostituição, o que seria? A desfaçatez dessa filha mal amada de uma família em ruínas (seus pais estão separados há anos e ela vive distante de sua terra natal, da mãe, dos irmãos) chega ao auge do ridículo quando tenta justificar seu ato. Segundo ela, parte do dinheiro arrecadado será destinada a um projeto de construção de casas populares. “Eu quero criar um projeto com o objetivo de ajudar as pessoas a ter seus próprios lares”. Caridade com holofotes, ora, ora! Melhor fez a pobre viúva de Serepta, com sua irrisória moedinha; depositou no altar a maior oferta, sua dignidade pessoal, apesar da indigência que o mundo lhe oferecia.

            Essa é a grande diferença que foge aos olhos da menina-moça dessa história. Não se trata de leiloar um invólucro protetor, um selo de garantia, um laço na caixa de presentes, um objeto sem maiores serventias do que o lacre que representa. Afinal, hoje até hímens a medicina diz reconstruir. Mas reconstrói a virgindade? Sim, aquela que trazemos do berço, que respira com a alma, que simboliza a pureza de nossos sonhos, de nossos projetos de vida, conquistas mútuas, descobrimentos diários, relacionamento consistente entre pessoas marcadas por um sentimento de pertença mútua... Tem preço essa virgindade, que nunca se desvirtua, mas se conquista à medida que se perde para o amado, a amada?  Pode se comprar um gesto de doação plena, símbolo da entrega entre casais apaixonados? E a consciência da perca, da tramóia, do engodo que fatalmente virá nos relacionamentos futuros? E a tristeza do coração iludido, da alma dilacerada por uma atitude que trai qualquer instinto ou sentido de coerência... Como fica?

            Por tudo isso meu coração se enche de luto diante da frigidez dessa história. Não pelo fato em si, cujo desfecho acontece todos os dias, às vezes até de forma mais chocante e brutal, mas pela frieza da protagonista, que desconhece o peso de um ato mecânico sem as exigências ditadas pela pobre alma. Ela, brasileira, maior de idade, dona do próprio nariz, é mais uma vítima do sistema secularizado, sem fé, sem Deus, que brutaliza o gênero humano. Ela, pobre vítima, catarinense da gema, talvez nunca tenha ouvido falar da vida de Santa Catarina, padroeira de sua terra. Segundo a tradição, Jesus lhe disse um dia: “A alma é como ouro, deve ser purificada no fogo”. Pois só o fogo do amor verdadeiro nos dá dignidade e vida plena, casa para nossos sonhos...

WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

 

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