LEILOANDO A ALMA
Você
entregaria sua alma a quem lhe oferecesse mais? Pois ao que parece, não só a
estudante brasileira que resolveu leiloar sua virgindade se acha discípula
primorosa da lei do Gerson (aquela de se levar vantagem em tudo), mas
igualmente grande porcentagem de expertises faria qualquer coisa pelo vil
metal. O lado ruim de vender a alma é
que nunca se conhece o comprador – se Deus ou o Diabo – posto serem ambos os
maiores interessados nessa aquisição. Já a virgindade...
Para
quem está entrando no assunto sem conhecimento dos fatos, eis algumas de suas
nuances a seguir. Um concurso pela internet, com justificativas de fundamentar
um documentário sobre costumes e tradições morais, lançou um desafio a jovens
virgens que topassem protagonizar a pauta sem propósitos claros do cineasta
australiano Justin Sisely. Dentre muitas, uma catarinense de 18 anos à época
foi a escolhida. Desde então, a jovem brasileira hoje com 20 anos vive em Bali,
onde aguarda o resultado da melhor oferta, que já atinge a cifra dos US$ 255
mil. A consumação do fato está prevista para o próximo 25 de outubro e se dará
num voo partindo da Austrália ou Indonésia, rumo aos EUA, “para evitar
complicações com leis tipo as que condenam a prostituição”, dizem os
organizadores.
Já
a pobre menina-moça se justifica com a falsa demagogia de estar buscando meios
financeiros para um projeto social (vejam só!) para atender famílias carentes
do Brasil. “Faço apenas um negócio, que não é prostituição, pois não pretendo
repeti-lo”. Então, se vender o corpo não é mais prostituição, o que seria? A
desfaçatez dessa filha mal amada de uma família em ruínas (seus pais estão
separados há anos e ela vive distante de sua terra natal, da mãe, dos irmãos)
chega ao auge do ridículo quando tenta justificar seu ato. Segundo ela, parte
do dinheiro arrecadado será destinada a um projeto de construção de casas
populares. “Eu quero criar um projeto com o objetivo de ajudar as pessoas a ter
seus próprios lares”. Caridade com holofotes, ora, ora! Melhor fez a pobre
viúva de Serepta, com sua irrisória moedinha; depositou no altar a maior
oferta, sua dignidade pessoal, apesar da indigência que o mundo lhe oferecia.
Essa
é a grande diferença que foge aos olhos da menina-moça dessa história. Não se
trata de leiloar um invólucro protetor, um selo de garantia, um laço na caixa
de presentes, um objeto sem maiores serventias do que o lacre que representa.
Afinal, hoje até hímens a medicina diz reconstruir. Mas reconstrói a
virgindade? Sim, aquela que trazemos do berço, que respira com a alma, que
simboliza a pureza de nossos sonhos, de nossos projetos de vida, conquistas
mútuas, descobrimentos diários, relacionamento consistente entre pessoas
marcadas por um sentimento de pertença mútua... Tem preço essa virgindade, que
nunca se desvirtua, mas se conquista à medida que se perde para o amado, a
amada? Pode se comprar um gesto de
doação plena, símbolo da entrega entre casais apaixonados? E a consciência da
perca, da tramóia, do engodo que fatalmente virá nos relacionamentos futuros? E
a tristeza do coração iludido, da alma dilacerada por uma atitude que trai
qualquer instinto ou sentido de coerência... Como fica?
Por
tudo isso meu coração se enche de luto diante da frigidez dessa história. Não
pelo fato em si, cujo desfecho acontece todos os dias, às vezes até de forma
mais chocante e brutal, mas pela frieza da protagonista, que desconhece o peso
de um ato mecânico sem as exigências ditadas pela pobre alma. Ela, brasileira,
maior de idade, dona do próprio nariz, é mais uma vítima do sistema
secularizado, sem fé, sem Deus, que brutaliza o gênero humano. Ela, pobre
vítima, catarinense da gema, talvez nunca tenha ouvido falar da vida de Santa
Catarina, padroeira de sua terra. Segundo a tradição, Jesus lhe disse um dia:
“A alma é como ouro, deve ser purificada no fogo”. Pois só o fogo do amor
verdadeiro nos dá dignidade e vida plena, casa para nossos sonhos...
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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