O HUMORISTA JESUS
Muitos abraçam
a vida da fé com a fisionomia séria e a cabeça baixa, como se esta postura
pudesse melhor combinar com sua opção de vida. Afinal, religião não é brinquedo.
Pior que cristãos tristes; são tristes cristãos!
Acontece
que a vida da graça é manancial de alegria. Não se concebe um cristão sem
alegria. A fé, por princípio, é uma revelação proporcionada pela boa notícia do
Reino, uma manifestação de esperança renovada, a compreensão de que não somos
filhos das trevas, da perdição, mas filhos reconciliados no Amor do Pai. Então
erga a cabeça, sorria, seja feliz, pois Deus está conosco, já, no momento
presente, no aqui e agora desse mundo aparentemente perdido e assustador.
Jesus
nos falou com autoridade e muita clareza: “quem me vê, vê o Pai; quem me segue
não anda nas trevas; quem ouve as minhas palavras e as pratica, será salvo”.
Todavia, ao lado da seriedade de suas palavras estava também a singeleza de uma
mensagem alegre, cheia de esperança, porém simples e de fácil compreensão para
os corações abertos ao seu entendimento. A mensagem da graça de Deus!
Dessa
forma, é possível identificar o humor de Jesus na sua tarefa de anunciar a boa
nova. Dificilmente o encontraremos tenso, cheio de rancor ou falando em tom de
ameaça aos que o ouviam. Exceção conhecida foi o caso dos vendilhões do Templo,
aqueles que afrontavam e maculavam a casa de Deus. Tristes eram aqueles.
Tristes são estes, que apesar de toda ciência revelada pela doutrina cristã,
ainda teimam em fazer da casa do Senhor um mercado de peixes, um covil de
ladrões. E eis que são muitos os que assim ainda agem.
Mas
voltemos ao assunto. Jesus era um humorista nato. Já no episódio de seu
primeiro milagre podemos constatar. Imaginem a cena: uma multidão de convivas
está maravilhada com o sabor daquele vinho de última hora. Num canto, Jesus a
observá-los e certamente a sorrir por dentro. “Coitados, bebem água pensando
ser vinho”, talvez dissesse a si mesmo. Realmente, na festa da vida, quantas
vezes nos iludimos, bebendo dos prazeres do mundo, sem reconhecer o sabor
maravilhoso da “água viva”, o vinho novo que Jesus nos oferece como fonte da
eternidade!
Outra
cena: os discípulos se lançam ao largo do lago, em busca de cardume que possa saciá-los.
É noite alta. Não os encontrando às margens, Jesus segue por sobre as águas. Ao
se aproximar do barco, muitos gritam: “É um fantasma!” Mas Jesus se faz reconhecer...
Maravilhado, Pedro quer ir até Ele. E Jesus o desafia: “Venha”. Mal coloca os
pés nas águas, Pedro afunda como uma pedra, dá “com os burros n’água”. Com
certeza, Jesus deu boas gargalhadas, ao comentar: “Homens de fé pequena”!
Também
a cena do cego de nascença que o procura ciente dos milagres que realizava.
Ironicamente, Jesus lhe pergunta: “Que queres de mim”? Ora, se ele era cego, o
que mais desejaria senão a cura? Tem ainda aquele outro, que antes de obter a
cura, espera Jesus abaixar-se, cuspir na mão, fazer uma massa de barro e
colocá-la sobre seus olhos. Pra que todo esse ritual, se uma simples palavra do
Mestre poderia curá-lo? Apenas para nos lembrar que somos pó e a ele
voltaremos; que nunca veremos a luz da redenção se continuarmos a exigir de
Jesus somente a cura dos males físicos. Que a maior das curas é aquela que nos
transforma interiormente e nos faz ver a vida sob a ótica da graça de Deus. Só
essa para mudar o nosso senso de humor, dando-nos a verdadeira alegria, aquela
que nos faz erguer a cabeça e sorrir para a vida, a maior das graças. E isso
não é piada.
A maior das
ironias de Jesus, no entanto, Ele a fez de cabeça baixa e fisionomia séria,
riscando o chão da triste realidade humana, para não sorrir de nossa
ingenuidade: “Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra”.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
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