AINDA BEM QUE TEM
Os pouco menos de
cem dias que nos separam da Jornada Mundial da Juventude e da visita do papa
Francisco ao Rio se enchem de expectativas. O super encontro católico será um
evento sem precedentes, com uma previsão de reunir 2,5 milhões de participantes
e um exercício de hospitalidade para mais de 500 mil jovens – que serão
recebidos por famílias cariocas, escolas e comunidades paroquiais – a grande
maioria mobilizados de suas origens por uma frota de 20 mil ônibus, ou seja, o
dobro da frota que hoje circula no Rio. O auge desta manifestação de fé será
uma missa campal em Guaratiba, zona sul do Rio, às 10h do dia 28 de julho de
2013.
Ainda
bem que eventos dessa natureza nos provam que nem tudo está perdido no mundo
jovem. Não tem apenas drogas e sexo, insensibilidade e consumismo, alienação e falta
de perspectivas no meio de nossos jovens... Ainda bem! Ou, como diria qualquer
prof. Pasquale: ainda bem que ter, no sentido de existir, é sempre singular.
Fora da questão gramatical, eis uma verdade profunda: ter, no sentido de
existir, é singular. Singular, porque única, porque o sentido maior da vida é
valorizar o que temos, o que somos; o que dá sentido à nossa existência, à
alegria de uma juventude sadia, que busca, que encontra, que assume aquilo que
realmente realiza seu existir, seu ser espiritual em meio a um mundo
extremamente sensual, material.
Ainda
bem que grande parte de nossos jovens percebem essa diferença. Nem por isso são
diferentes. Nem por isso se envergonham de empunhar a bandeira de sua fé e se
manifestar publicamente como seguidores de uma alegria maior. Dessa opção
derivam críticas e polêmicas. Como aquela que circulou em revista de grande
tiragem no País, dizendo que o evento católico irá aproveitar artistas
seculares, de vida contraditória com os ensinamentos da Igreja, para arrebanhar
maior número de jovens. “Infelizmente estamos vendo que tem muitos filhos da
Veja, que acreditam piamente naquilo que se publica nela”, disse D. Oroni
Tempesta, arcebispo do Rio e presidente da comissão organizadora do evento.
Explicou ele que foi feito um convênio apenas com cantores e bandas católicas.
Isso tudo para não macular o objetivo primeiro desse Encontro, pois qualquer
movimento que envolva a pessoa do papa e o nome da Igreja não pode fugir de seu
caráter evangelizador.
Mas,
se por um lado estamos qualificando o trigo, dando aos nossos jovens a
oportunidade de se contrapor com os valores de muitos, em especial aqueles que
idolatram deuses e musas de outras tribos, que também acorrem aos milhões e em
segundos esgotam seus “passaportes” para glorificarem outras bandas, por outro lado
não temos que medir forças pesando o número deste ou de outro evento qualquer.
O essencial é valorizar o que temos. O essencial mesmo é olhar para a cena
evangélica daquele jovem morto, em meio a uma multidão que o conduzia, que
cruzou o caminho de Jesus e provocou sua piedade. Quantos ainda estão por aí,
conduzidos pelo rol das multidões sem rumo, sem outro sentido para o “existir”
que aquele que os impulsiona para um cemitério, a morte tão-somente.
Eis
que Jesus olha enternecido para esta cena em nada singular. A mesma que
confrangia o coração daquela mãe sofredora, filho único e ainda viúva. Quantos
assim caminham pelo mundo! Quantas mães já choram a morte de filhos ainda
vivos, porém insepultos, agonizantes de uma vida sem outro horizonte maior.
Então, eis que Jesus se aproxima. Eis que o papa repete seus passos. “Queremos
unir as estações de sofrimento de Jesus Cristo com a realidade do ser humano,
tentando reproduzir isso”, diz um dos responsáveis pela organização da JMJ, Pe.
Renato.
Mas
a ordem de Jesus possui uma dinâmica maior. Ainda bem que tem Cristo nesta
história. E Ele toca o esquife de muitos mortos: “Jovem, eu te ordeno,
levanta-te”.
WAGNER PEDRO MENEZES –
wagner@meac.com.br
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