domingo, 14 de abril de 2013

AINDA BEM QUE TEM


AINDA BEM QUE TEM

            Os pouco menos de cem dias que nos separam da Jornada Mundial da Juventude e da visita do papa Francisco ao Rio se enchem de expectativas. O super encontro católico será um evento sem precedentes, com uma previsão de reunir 2,5 milhões de participantes e um exercício de hospitalidade para mais de 500 mil jovens – que serão recebidos por famílias cariocas, escolas e comunidades paroquiais – a grande maioria mobilizados de suas origens por uma frota de 20 mil ônibus, ou seja, o dobro da frota que hoje circula no Rio. O auge desta manifestação de fé será uma missa campal em Guaratiba, zona sul do Rio, às 10h do dia 28 de julho de 2013.

            Ainda bem que eventos dessa natureza nos provam que nem tudo está perdido no mundo jovem. Não tem apenas drogas e sexo, insensibilidade e consumismo, alienação e falta de perspectivas no meio de nossos jovens... Ainda bem! Ou, como diria qualquer prof. Pasquale: ainda bem que ter, no sentido de existir, é sempre singular. Fora da questão gramatical, eis uma verdade profunda: ter, no sentido de existir, é singular. Singular, porque única, porque o sentido maior da vida é valorizar o que temos, o que somos; o que dá sentido à nossa existência, à alegria de uma juventude sadia, que busca, que encontra, que assume aquilo que realmente realiza seu existir, seu ser espiritual em meio a um mundo extremamente sensual, material.

            Ainda bem que grande parte de nossos jovens percebem essa diferença. Nem por isso são diferentes. Nem por isso se envergonham de empunhar a bandeira de sua fé e se manifestar publicamente como seguidores de uma alegria maior. Dessa opção derivam críticas e polêmicas. Como aquela que circulou em revista de grande tiragem no País, dizendo que o evento católico irá aproveitar artistas seculares, de vida contraditória com os ensinamentos da Igreja, para arrebanhar maior número de jovens. “Infelizmente estamos vendo que tem muitos filhos da Veja, que acreditam piamente naquilo que se publica nela”, disse D. Oroni Tempesta, arcebispo do Rio e presidente da comissão organizadora do evento. Explicou ele que foi feito um convênio apenas com cantores e bandas católicas. Isso tudo para não macular o objetivo primeiro desse Encontro, pois qualquer movimento que envolva a pessoa do papa e o nome da Igreja não pode fugir de seu caráter evangelizador.

            Mas, se por um lado estamos qualificando o trigo, dando aos nossos jovens a oportunidade de se contrapor com os valores de muitos, em especial aqueles que idolatram deuses e musas de outras tribos, que também acorrem aos milhões e em segundos esgotam seus “passaportes” para glorificarem outras bandas, por outro lado não temos que medir forças pesando o número deste ou de outro evento qualquer. O essencial é valorizar o que temos. O essencial mesmo é olhar para a cena evangélica daquele jovem morto, em meio a uma multidão que o conduzia, que cruzou o caminho de Jesus e provocou sua piedade. Quantos ainda estão por aí, conduzidos pelo rol das multidões sem rumo, sem outro sentido para o “existir” que aquele que os impulsiona para um cemitério, a morte tão-somente.

            Eis que Jesus olha enternecido para esta cena em nada singular. A mesma que confrangia o coração daquela mãe sofredora, filho único e ainda viúva. Quantos assim caminham pelo mundo! Quantas mães já choram a morte de filhos ainda vivos, porém insepultos, agonizantes de uma vida sem outro horizonte maior. Então, eis que Jesus se aproxima. Eis que o papa repete seus passos. “Queremos unir as estações de sofrimento de Jesus Cristo com a realidade do ser humano, tentando reproduzir isso”, diz um dos responsáveis pela organização da JMJ, Pe. Renato.

            Mas a ordem de Jesus possui uma dinâmica maior. Ainda bem que tem Cristo nesta história. E Ele toca o esquife de muitos mortos: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te”.

            WAGNER PEDRO MENEZES – wagner@meac.com.br

 

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